


Hora de comer, comer
Sobre a mesa, o requinte do pescado fresco, peixes, camarões, lagostas e toda sorte de mariscos, tudo muito bem adereçado segundo padrões da tradição local, mas é possível achar receitas de outras partes do Brasil ou mesmo estrangeiras. No que concerne a carne de bode, que é como chamam os cabritos por lá, os paraibanos aferram-se a modos ancestrais, o que nos favorece tremendamente, porque vem sempre deliciosa. Bom demais. Há um jeito paraibano de preparar a “buchada” que deve ser ótimo para quem gosta do prato. O embutido de vísceras, fígado, coração, rins e o quê mais no estômago do bode é comida que demora pra ficar pronta, mas deixa de água na boca os apreciadores.
História, histórias
A Paraíba é muito rica em História e em histórias, a começar pelo nome de sua capital, fundada em 1585 como Vila de Nossa Senhora das Neves. Nos tempos em que Felipe II da Espanha reinou sobre Portugal e, por extensão, sobre o Brasil, passou a chamar-se Nossa Senhora das Neves Felipeia, nome que, ao tempo das invasões holandesas, foi mudado para “Frederica”, em homenagem a Frederico de Orange. Os holandeses, derrotados em Guararapes, foram embora, voltaram os portugueses, mas o povo paraibano, que nunca assimilara aquilo de “Cidade Frederica”, já estava afeito a chamar a antiga vila de Nossa Senhora das Neves de “Cidade da Parahyba”, nome que persistiu até 1930, quando do triunfo do movimento getulista desencadeado a partir do assassinato do então presidente da Paraíba e candidato a vice-presidente da República na chapa de oposição encabeçada por Getúlio Vargas. Para homenagear o líder assassinado e, claro, fazer propaganda do novo regime, a capital da Paraíba virou “João Pessoa”.
Luiz Gonzaga e o baião famoso
Em 1950, eleições. O Brasil está mergulhado em política, e a Paraíba também. O candidato a senador José Pereira Lira encomendou a Luiz Gonzaga um “jingle” para sua campanha. Em parceria com Humberto Teixeira, o Rei do Baião compôs “Paraíba”, que não deu a vitória ao candidato, mas transformou-se numa canção dessas que o povo brasileiro, de norte a sul, conhece, reconhece, canta e dança, um rematado “cult” nacional:
Paraíba
(Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira)
Quando a lama virou pedra
E mandacaru secou
Quando a ribaçã de sede
Bateu asas e voou
Foi aí que eu vim'embora
Carregando a minha dor
Hoje mando um abraço prá ti pequenina
Paraíba masculina
Muié macho sim senhor
Êta pau-pereira
Que em Princesa já roncou
Êta paraíba
Muié macho sim senhor
Êta pau-pereira
Meu bodoque não quebrou
Hoje mando um abraço pra ti pequenina
Paraíba masculina
Muié macho sim senhor
Êta, êta
Mulher macho sim senhor
O xaxado da comadre Sebastiana
A personagem da canção de Dorival, uma vez decidido que iria pra Maracangalha, cogita “convidar Anália”, mas disposta a ir mesmo só, que nem Jó, “se Anália não quiser ir.” Mas é assim mesmo “neste Brasil lindo e trigueiro, terra de samba” e do meu compadre Jackson do Pandeiro, que conta do convite que fez à sua comadre Sebastiana “pra dançar e xaxar na Paraíba”. E conta como ela se entusiasmou, mas “veio com uma dança diferente // E pulava que só uma guariba // E gritava: a, e, i, o, u, y”
Ariano e a Pedra do Reino na Lagoa

Ô Ariano. Muito obrigado. Que o teu sonho armorial não se desvaneça nunca, e que a bicha Bruzacã não te pegue não!
Tamandaré, Pedro Américo, Caixa d`Água
O povo de João Pessoa se compraz em homenagear seus próceres e artistas em bronze, mármore, essas coisas, para perpetuar sua presença. Em sua própria praça, João Pessoa de dedo em riste reitera a negação de apoio às pretensões de Júlio Prestes. De costas para o mar, na avenida que tem o seu nome, o busto do marquês de Tamandaré, a efígie corresponde à que circulou nas notas de Cr$ 1,00, cabelos desgrenhados, inclusive, ergue os olhos, desde sua herma, para a cidade, para seu Estado da Paraíba e para Brasil. E no olhar do almirante, serenidade e confiança, temor nenhum.
A gente segue av. Epitácio Pessoa até chegar ao centro e à Praça Pedro Américo, o pintor de cenas épicas do Império, “O Grito do Ipiranga”, “A Batalha do Avaí”, entre tantas outras, que tem lá herma e busto, bem imponentes. Do lado de cima da praça, ergue-se em bronze, tamanho natural, como se estivesse passeando por ali, a figura de Caixa d`Água, poeta popular e boêmio conhecido e querido das ruas do centro velho da Cidade da Paraíba, falecido há uns poucos anos.
Poeta à sombra do tamarindo

Quando, há muito tempo, um blogueiro ocioso compôs sua própria “Tamarindagem”, não foi para comparações descabidas, plenamente consciente de que lá na parte mais alta do panteão dos poetas brasileiros onde Augusto dos Anjos está, é alto demais para ele. Uma coisa é estro, meu irmão, outra é gradação Gay-Lussac.
“Tamarindagem”
À sombra em flor do tamarindeiro, teu colo, meu amor, meu travesseiro. Um afago na face, teus olhos mansos, um estalo no pálato, um travo brando, um beijo, outro beijo, um trago, outro mais... Vida tamarinda, ê, pinga tabaroa! Rico eu não fico, meu amor, mas vou ficando à toa, à sombra em flor... (NM)