sábado, 30 de janeiro de 2016

Bar do Chico, Rua Sergipe com Timbiras

Gente interessada em filmes, em fazer filmes, roteiros, dirigir, essas coisas, quando se enturma não tem outro assunto, o que é aborrecido, mas também divertido, mesmo para quem tenha entendido, de cara, que não ia virar cineasta de jeito nenhum, sonho universal naqueles primeiros anos 70 entre os alunos da escola de cinema da Universidade Católica, em BH.  Os mais aptos insistiam, mas fora um curta metragem ou outro, um Super 8, pouco realizaram que merecesse registro. Tudo muito difícil, frustrante.

Manter-se na perspectiva de fã, reconhecer a própria falta de jeito, de gana e meios para realizar um filme de verdade tinha suas vantagens. Sem maiores pretensões, o sujeito podia contentar-se em ver nas telas dos cinemas do circuito comercial e nos cine clubes as estrelas de sempre, Marlene Dietrich, Greta Garbo, Ingrid Bergman, Dorothy Lamour, Maria Montez, Maria Felix e, claro, as estrelas do momento.  Pouco importava a conversa interminável dos cinéfilos sobre filmes, diretores, atores, cinegrafistas, roteiristas, continuistas, Cinecittà, neo realismo, Vittorio de Sica, Rosselini, Mussolini, - Epa, esse não!  - Mastroiani, Lucchino Visconti, Bertolucci, Federico Fellini, Pasolini, Nouvelle Vague, Goddard, Agnès Varda, Nelson Pereira dos Santos, vá lá, Limite, Humberto Mauro, Deus e o Diabo, Glauber Rocha, Jeanne Moreau, Belmondo, Anie Girardot, Brigitte Bardot, Roger Vadim, Jane Fonda, Barbarella, tão bonita!

Era assim nos corredores da Faculdade de Filosofia, onde funcionava a escola de cinema, nas salas de aula, no laboratório, nas pequenas e grandes salas de exibição e nos botequins da cidade onde, enturmados, buscavam cerveja gelada e conversa fiada em intermináveis discussões sobre o que rolava nos cinemas. O Bar do Chico, na Rua Sergipe com Timbiras, era parada obrigatória no ir e vir para a escola, na Avenida Brasil, já chegando à Praça da Liberdade.  Muito gelo na cerveja que servia, do que ninguém reclamava; moelas de galinha vinham num molho temperadíssimo que, sobretudo em noites mais frias, alegrava o mais descoroçoado coração. Chico era apenas o garçom, mas tão amável e eficiente, acabou virando o dono moral do estabelecimento.


Numa noite de grande libação, discussão acalorada sobre os pequenos e grande entraves que sufocavam, desde a produção à exibição, a realização de filmes no Brasil. Desinteressado, um sujeito insistia na ideia de armar uma rede, dessas de dormir, nos sinos da Catedral da Boa Viagem, bem em frente, para que todos tivessem “ciência e conhecimento” de que, quando fosse o caso, ele estava namorando.  A namorada não dissimulou o tédio nem saiu do tema ao encerrar o papo furado: – Ô, meu chapa! Deixa de ser exibido!
(NM)