domingo, 30 de julho de 2017

Florada de ipês, festa e esperança pra todos nós



BH está vestida para festa, com todas as cores e galas dos ipês. A florada deste ano chegou simplesmente deslumbrante, repetindo, talvez, o grande jubileu vegetal celebrado na cidade por essas árvores inacreditáveis em 2011, quando cometeram todos os excessos de magnificência. Todos os tons do rosa clarinho ao lilás estão em nossas ruas, praças, parques, cemitérios, quintais e onde mais. Ipês, ipês por toda parte, que bom!

É claro que, no reino das entidades verdes, essas ocorrências essenciais estão subordinadas a condições de ordem meteorológicas, como a variação de temperatura e da umidade relativa do ar, sei lá. Mas a gente pode acreditar em magia pra explicar  a orquestração da florada dos ipês que, de algum modo, concertam isso de nos brindar, todos na mesma noite,  com o esplendor de suas inflorescências. Mas, também, explicar pra quê?

O ipê da foto, achou de florir no canteiro central da Avenida Getúlio Vargas, de onde irradia em muitas direções seus mais brilhantes eflúvios de sua fantasia vegetal. As magnólias do fundo ostentam o verdor do vestido de baile da Scarlett O`Hara. Dá até pra gente pensar se a árvore não guarda atavismos dos tempos do Jardim do Edem que, de vez em quando, permite que se manifestem para refrescar a memória dos homens, numa quadra triste como esta, de miséria e indigência por todo lado, sem perspectivas de alívio, refresco nenhum, sem esperança.

Milhares de zumbis perambulando pelas ruas e dormindo nelas faça chuva ou faça sol, ou na friagem açoitante deste nosso inverno que, de repente, resolveu mostrar seus rigores. Comem e bebem o que lhes oferece as ruas e, claro, aceitam sem reservas o consolo alucinógeno e letal das pedras de sonho. Uma merda! E, no entanto, vêm os ipês com uma florada dessas. Gente, ainda dá pra acreditar. (NM)

Um pé de maracujá alienígena

Pra quem não é de BH, explico que a Savassi é a área mais charmosa da cidade, muito comércio, galerias, shoppings, restaurantes  e, sobretudo, muitos bares. Nesse espaço especial de uma cidade especial, eles são tantos que até podemos parafrasear em nosso próprio proveito aquela assertiva madrilenha de que “hay mas bares en la calle Atocha de Madrid, que en todo el reino de Dinamarca”. Nunca fui de sair contando bares escandinavos, mas os nossos estão aqui, pra quem quiser contar.

Da perspectiva do bar, de qualquer bar, da “calle Atocha” ou da Dinamarca, mas estamos na Savassi e, é igual, não deixa de ser intrigante a prosaica presença de um pé de maracujá na Rua Antônio de Albuquerque, entre Levindo Lopes e Sergipe. O mais provável é que alguém comeu um maracujá e lançou a cuia vazia ao pé de uma árvore do passeio e, por acaso, uma semente foi junto. A semente germinou,  a rama galgou a árvore com suas tenazes gavinhas, alcançou a fiação telefônica, a rede elétrica, e não para de se expandir em todas as direções, deitando um imenso caramanchão.

Isso, porém, não passaria de especulação, considerando-se a hipótese, das mais plausíveis, do maracujá alienígena, que apenas inicia uma invasão, que só terminará quando a ramagem exuberante vinda do espaço sideral estender-se por toda a rede de cabos elétricos da cidade, alcançando os edifícios, públicos ou não – imagine o que será de tantos palácios da justiça? – até cobrir nossa BH tão amada, idolatrada, salve, salve!

E, no entanto, o pé de maracujá da Rua Antônio de Albuquerque achou de dar frutos, lindos e suculentos maracujás, isso depois de exibir sem qualquer pudor aquelas flores da cor da paixão, roxas, roxas. O primeiro que ocorre em quem vê aqueles frutos, é um bom e refrescante suco, mas é bom lembrar que o pé de maracujá pode ter seus próprios desígnios: esconder BH sob um imenso caramanchão protetor, ou transformar em suco sua população ingrata e descuidada.  (NM)