quarta-feira, 14 de março de 2018

Na rede eletrônica somos todos errantes


Minha amiga Alcéa não é a primeira pessoa que conheço a se irritar com os excessos e banalizações de todos os tipos que as redes sociais impõem ao nosso cotidiano. Mas ela expressou sua inconformidade em versos que chegaram a O&B por e-mail, uma forma até convencional de comunicação nesses tempos de tanto vatsap. Não teve remédio senão publicá-los aqui, pelo prazer de compartilhar a bronca fundamentada e bem posta com nossos amigos e leitores. Agora, uma despropositada derivação, talvez porque anda tudo muito errático, erradio: No título do poema, com  a imaginação à solta, a gente pode achar a remissão que quiser, até à “Errante Elissa”, Dido, a rainha de Tiro que, em seu exílio, teve forças para fundar Cartago, e ainda, para seu romance infeliz com Eneias, o herói troiano. (nm)


ERRANTE

Alcéa Romano

Ando com “arg” de whatsap
Que eu não pedi pra chegar
Amanhece o dia bom dia
Nem escureceu boa noite.

E todo dia é assim
Até a segunda feira
E aí já chega bem cedo
Boa semana se queira.

Tem gente que não pensa
Naquele que vai receber
Manda piada e bobagens
Que não quero merecer

Nunca mais liga ou se ouve
A voz de pessoas queridas
De outros ainda bem
Pois há risco de ser ferida

É política... religião,
Bobagens e safadezas
Pouca coisa se aproveita
Disto eu tenho certeza

E o tempo que se gasta
Ouvindo o que não pediu
Dá vontade de responder
Vai pra santa que te pariu

Tem muita coisa que apago
Sem ler e sem ouvir
Pois aquilo já veio antes
E não tenho que engolir

E o tal do instagram,
Do msn do facebook
Este aí que invadiu
A vida cheia de “looks”

Tudo escancarado
Sem nenhum pudor
E ninguém quer saber
Se estou feliz ou com dor

Ainda aventuro enviar
Um mais certeiro email
Tem gente que já se esqueceu
E nem usa mais este meio

Ontem mesmo eu enviei
Algumas coisas pelo correio
Era bom aquele tempo
Que até parecia sorteio

A notícia chegava de longe
Páginas escritas à mão
Faziam correr lágrimas
E que delícia se sensação

O mundo ficou assim
Tudo de perna pro ar
Até parece que um dia
Ele vai mesmo acabar

Mas cada um que se cuide
Daquilo que lhe é importante
Pois a vida vai seguindo
Para todo ser errante

Quem quer ouvir uma voz
Que saia do seu coração
Este aí sabe o caminho
Do que lhe é confortante.