As fadas e as bruxas das primeiras histórias, a voz mansa e afetuosa da avó; sempre jovens, sempre lindas, as professoras da primeira escola, inefável presença vida afora, no afeto e na memória; namoradas, namorada, a companheira, “mulher de amor” cujos braços, como na canção desesperada de Neruda, “me acogieron” quando “era la negra, negra soledad de las islas”, e as amigas de sempre, algumas que a gente nem sabe por onde andam.
Mulheres,
mulher, a mulher, assim, nominativamente ou num acusativo banal, abstração. E,
no entanto, delas é o primado da fonte e o do riacho e o primado do mar. Sem
mulher que se banhe nele, para quê o verdor calmo das brandas lagoas? Seu toque
demiúrgico, materializador dá razão de ser às águas que escorrem com estrépito
de altas montanhas, e substância e sentido aos vales, floridos ou de candentes
lágrimas que, incidentalmente, cumpre-nos atravessar.
A
aura misteriosa, o fascínio arrebatador, a irrecorrível vertigem, quanta
prenda! Mais o Sol, a Lua, as estrelas, os
solstícios de Verão, os equinócios de Primavera!... Assim, a noite, o dia, cada noite, cada dia,
as horas, a Aurora, oh! dourados
amanheceres, tardes radiantes ou mesmo uma
ou outra que um Outono frio resolveu de repente envolver em névoa! E os
crepúsculos, sobretudo aqueles profundamente azuis.
Oceânica,
múltipla, protêica, qualquer mulher pode, quando quer, transformar, por
exemplo, em alegre delfim o mais taciturno mergulhão. Feitiçaria, magia, sabe como
é. Ou, simplesmente, ferir de ausência um marinheiro incauto, ferir tão fundo
que, incontinênti, ele vira Robinson Crusoé. Mas sempre há um momento de embarcar
e, sem cuidado demais, deixar-se levar ao sabor de suaves correntes e, panos ao
vento, divagar, divagar em caravela de hipérbole, branca, branca, de papel
crepom. (NM)
(*) O
grafite que ilustra a postagem foi “pirateado” do blogue “De Titanio e
Porcelana”, de minha amiga Ana Ruiz, de Jerez de La Frontera, que o achou no
sítio “Acción Poética” (Chile). Há instâncias que recusam a primazia feminina.
Paciência, pois não têm a menor graça. O blogueiro, porém, sempre a reconheceu,
como o grafiteiro, que desvela na parede o seu critério excelente.