sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Para a celebração do solstício






No dia mesmo do solstício, de inverno, “por supuesto”, a querida amiga Maria Luísa fotografou limões num pátio de Sevilha e, para desejar a passagem feliz de nosso próprio solstício que ocorreu por volta das 12hs e pico do dia 22, mandou a foto primorosa que ora enfeita e alegra este O&B. Esses limões carregam a própria essência do Sol e esparzem sua luz benfazeja e constituem grata e firme certeza de um solstício feliz para todos, desde as paragens geladas da Patagônia até as setentrionais latitudes da Andaluzia e além. (nm)  

terça-feira, 14 de dezembro de 2021

O "Café" do Fernando Fabbrini


"O
Café do Sargento”, de Fernando Fabbrini, é um mimo para os sentidos dos que gostam ler e, de quebra, não abdicam do sabor e aroma reconfortantes que só a nossa prestigiosa rubiácea pode proporcionar, mesmo para quem tenha, há muitos anos, renunciado ao prazer de um trago de cigarro, depois do trago de café. Nos tempos de escola, na aldeia rodeada de montanhas perfumadas, na estação asada, das olorosas emanações dos cafezais em flor. A professora contava, com sua palavra incontrastável, que foi Martin Afonso, donatário da Capitania de São Vicente, quem trouxe para Brasil, nos começos do Século XVI, as primeiras mudas de café.

Meus mais encarecidos agradecimentos ao capitão português. Iniciativa de muito mérito, mas ele não está na história que o Fabbrini nos conta, nem os domínios distantes de Portugal, lá no Oriente. Ela começa, isto sim, na Guiana Francesa, onde um certo Sargento Palheta, num autêntico “trailer” do 007, foi buscar preciosas sementes de café, não de qualquer café, mas o mais nobre e rico, que as autoridades coloniais protegiam a ferro e fogo, com empenho análogo ao dos chineses em relação ao bicho da seda.

O indigitado sargento enfrentou selva e gafanhotos no ambiente úmido e canicular da Amazônia, atravessou rios e igarapés, mas também dançou os últimos “hits” da época (Século XVIII) em pretenciosos bailes provincianos de uma Caiena que, então, ainda não havia sido transformada em colônia penal pelo governo francês. Lembram-se de “Papillon”, o filme? Steve McQueen, estupendo.

Pois bem. O Sargento Palheta, este era o nome dele, não só dançou com as damas caienenses, como, quando a situação assim o exigiu, foi aos lençóis da mulher do governador da Guiana, tudo para conseguir os grãos de café, sementes, que queria contrabandear para o Brasil. Por sua devoção e empenho nesse mister, mereceu que a dama, na undécima hora, salvasse a sua missão que já parecia um tremendo fracasso. Usando de femininas cautelas, permitiu-lhe embarcar com um alentado pacote das preciosas sementes.

No aeroporto Santos Dumont, no Rio, o Café Palheta serve a bebida nacional com muita qualidade e bastante dignidade. Não sei se é café oriundo das sementes do sargento. Mas evocam seu nome, o que já é bom o suficiente. (nm)