A Biblioteca Nacional sempre distinguiu com a Medalha da
Ordem do Mérito do Livro pessoas que contribuíram para a glória de nossa
literatura. Agora, porém, descarrilou, e a honraria foi parar no colo de alguém
sem qualquer mérito literário, um deputado que se notabilizou por disparar
ofensas a torto e a direito, à Justiça e outras instituições, pelas quais foi
condenado. O jornalista Reinaldo Azevedo não pôde evitar a ironia: E se o deputado
Daniel Silveira, de repente, resolver transformar em bibliotecas estandes de
tiro que atravancam seu universo paralelo. Poderia, claro, ocorrer algum tipo
de reprimenda, pois há quem encare essas coisas de livro, biblioteca e que tais
com desconfiança, gente que, quando calha, queima livros em autos de fé, como
no Terceiro Reich. E tem aquelas imagens
assustadoras de Fahrenheit 451, para que a gente não se esqueça que, sempre,
pior que o escárnio é a intenção do escárnio.
Os dirigentes da Biblioteca Nacional não explicaram o critério
inexplicável: Por onde o agraciado deputado se conecta a quaisquer imanências de
uma entidade complexa, inefável, intangível, mas palpável, presente e viva na
vida e no coração de cada um? Desgovernada, a instituição sucumbiu ao escárnio,
sem levar em conta que Carlos Drummond de Andrade ou o sociólogo Gilberto
Freyre, entre tantos escritores e poetas que mereceram a distinção, não podem
devolver, como provavelmente gostariam, medalhas, diplomas e tudo. Marco Lucchesi
e Antônio Carlos Secchin, escritores de verdade, “imortais” da Academia
Brasileira de Letras, estavam aqui, agora, para rechaçar de plano a “honraria”.
Ufa! Brasileiros agradecem.
(nm)