domingo, 3 de julho de 2022

De aleivosias, vilipêndios e escárnios

A Biblioteca Nacional sempre distinguiu com a Medalha da Ordem do Mérito do Livro pessoas que contribuíram para a glória de nossa literatura. Agora, porém, descarrilou, e a honraria foi parar no colo de alguém sem qualquer mérito literário, um deputado que se notabilizou por disparar ofensas a torto e a direito, à Justiça e outras instituições, pelas quais foi condenado. O jornalista Reinaldo Azevedo não pôde evitar a ironia: E se o deputado Daniel Silveira, de repente, resolver transformar em bibliotecas estandes de tiro que atravancam seu universo paralelo. Poderia, claro, ocorrer algum tipo de reprimenda, pois há quem encare essas coisas de livro, biblioteca e que tais com desconfiança, gente que, quando calha, queima livros em autos de fé, como no Terceiro Reich.  E tem aquelas imagens assustadoras de Fahrenheit 451, para que a gente não se esqueça que, sempre, pior que o escárnio é a intenção do escárnio.

Os dirigentes da Biblioteca Nacional não explicaram o critério inexplicável: Por onde o agraciado deputado se conecta a quaisquer imanências de uma entidade complexa, inefável, intangível, mas palpável, presente e viva na vida e no coração de cada um? Desgovernada, a instituição sucumbiu ao escárnio, sem levar em conta que Carlos Drummond de Andrade ou o sociólogo Gilberto Freyre, entre tantos escritores e poetas que mereceram a distinção, não podem devolver, como provavelmente gostariam, medalhas, diplomas e tudo. Marco Lucchesi e Antônio Carlos Secchin, escritores de verdade, “imortais” da Academia Brasileira de Letras, estavam aqui, agora, para rechaçar de plano a “honraria”.  

Ufa! Brasileiros agradecem.

(nm)