Olhe só que florada de ipês amanheceu
esses dias na paisagem de Belo Horizonte, em alegre e consoladora epifania! Tão discreta ultimamente, Harmonia, se
incorpora à consciência vegetal dos ipês, com todos seus tons do rosa clarinho a um lilás encorpado, diante
dos olhos, ao alcance das mãos. As árvores da ordem Tabebuia Avellanedae, paus
d`arco, peúvas, ipês roxos ou que nome se lhes dê, como se tivessem deliberado em assembleia: - É hoje.
E no tempo e no prazo, em
perfeita sincronia, lançam à luz o esplendor de inflorescências que colorem,
iluminam e enfeitam BH e todos os outros lugares onde gostam de florescer.
Ah, o “vasto mundo” de Drummond, agora
poluído, violento, injusto, superaquecido e triste! Boa rima deu-lhe o Poeta, mas deixou insolúvel
e, embora as cores da inocência, a rosa despedaçada da velha cantiga de roda é só
uma metáfora, crianças despetaladas em Gaza, a concretude do horror. É de
desesperar, mas melhor não. A gente olha a florada dos ipês e não se cansa de
olhar. De repente, dá até pra acreditar que o caos da insensatez e da
intolerância, ao fim e ao cabo, não prevalecerá. (NM)