Olhe só que florada de ipês amanheceu
esses dias na paisagem de Belo Horizonte, em alegre e consoladora epifania! Tão discreta ultimamente, Harmonia, se
incorpora à consciência vegetal dos ipês, com todos seus tons do rosa clarinho a um lilás encorpado, diante
dos olhos, ao alcance das mãos. As árvores da ordem Tabebuia Avellanedae, paus
d`arco, peúvas, ipês roxos ou que nome se lhes dê, como se tivessem deliberado em assembleia: - É hoje.
E no tempo e no prazo, em
perfeita sincronia, lançam à luz o esplendor de inflorescências que colorem,
iluminam e enfeitam BH e todos os outros lugares onde gostam de florescer.
Ah, o “vasto mundo” de Drummond, agora
poluído, violento, injusto, superaquecido e triste! Boa rima deu-lhe o Poeta, mas deixou insolúvel
e, embora as cores da inocência, a rosa despedaçada da velha cantiga de roda é só
uma metáfora, crianças despetaladas em Gaza, a concretude do horror. É de
desesperar, mas melhor não. A gente olha a florada dos ipês e não se cansa de
olhar. De repente, dá até pra acreditar que o caos da insensatez e da
intolerância, ao fim e ao cabo, não prevalecerá. (NM)
Caro Nilseu,
ResponderExcluiré necessário que haja pessoas como vc a fim de dirigir a atenção dos apre(stre)ssados para a exibição que a natureza insiste em fazer por meio desses incríveis ipês-rosa, eles mesmos meio tristonhos e cobertos de fuligem e pó na maior parte do ano...Você cita o Drummond das Sete Faces, eu me lembro dele no poema sobre a flor que nasce no asfalto... E, principalmente, quando escreve sobre um uma cidade destruída pelo desordenado atropelo do crescimento doentio, mas irrefreável: "Clara passeava no jardim com as crianças./O céu era verde sobre o gramado./ A água era dourada sob as pontes./Os outros elementos eram azuis, róseos, alaranjados."
Não sei se esse espaço edênico existiu realmente, mas, ao ler o que vc escreveu sobre os ipês, desconfio que podemos entender o que o poeta quis significar com os tais elementos róseos...Um grande abraço!
José Santos