quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Sete de Setembro, professoras e o fervor do Brasil

Setembro corre em disparada, montado em seu cavalo baio para chegar, sôfrego amante, aos braços da Primavera, os dias correndo junto para o ansiado encontro que, conforme as lembranças de lindos selos comemorativos do tempo da infância, haverá de celebrar-se no dia 22, que já está bem perto. E olhe que o mês começou devagar, indeciso, uns dias muito quentes, outros frios, como se quisessem confundir abelhas e andorinhas, mas não há como perder a entrada triunfal da estação florida. O Sete de Setembro, por exemplo, chegou e foi-se embora em branca nuvem, sem graça como os feriados que caem no domingo, e sem a emoção que traziam as celebrações do Dia da Pátria. Onde, porém, aquelas professoras jovens, bonitas, que insuflavam nos corações infantis, feito um sopro vital, o fervor do Brasil?

Os hinos e canções que ensinaram ainda reverberam na consciência e na memória: “Brava gente brasileira! // Longe vá... temor servil: // Ou ficar a Pátria livre // Ou morrer pelo Brasil!”, a letra de Evaristo da Veiga, a música de nosso Imperador Dom Pedro, o primeiro; “Ó Pátria amada, // Idolatrada, // Salve! Salve!” 

O Sete de Setembro passou em branca nuvem, feito qualquer pobre feriado que caiu num domingo. Alguma banda, algum coral, terá elevado os tons de Francisco Manuel da Silva no refrão ardente e vivo que, nos tempos da escola, incendiava versos esdrúxulos que mal podíamos compreender, do estro parnasiano de Osório Duque Estrada: “Deitado eternamente em berço esplêndido, // Ao som do mar e à luz do céu profundo, // Fulguras, ó Brasil, florão da América, // Iluminado ao sol do Novo Mundo!”

Na banalização, porém, dissolveu seu espírito e, junto,  qualquer possibilidade de fervor do Brasil, uma pena, menina. Ah, cantam nos jogos de futebol, mas sequer como o melhor cântico dos estádios. Nas vozes da malta torcedora, prefiro, sem desdouro para ninguém, as notas de “Clube Atlético Mineiro, // Galo forte, vingador...”. Que  outros prefiram outras canções, eis o sal do jogo, a essência da democracia.

O Sete de Setembro passou em branca nuvem. Passou mesmo? Quase me esqueço de dizer, menina, que, justo na manhã do Dia da Pátria, ensolarada e fria manhã, o ipê que pontifica na esquina de Antônio Albuquerque com Sergipe, na Savassi, em BH, achou de antecipar a Primavera mostrando-se em todo o esplendor de sua florada estonteante. Não é extraordinário que ipês floresçam nesta época do ano, mas intriga o fato de que sempre nos surpreendam, não importa quantas vezes tenhamos visto o mesmo espetáculo. Talvez seja porque, não sei não, tanto amarelo assim devolva-nos alguma secreta fagulha do fervor do Brasil que, de algum modo, nos alegra o coração. (NM)