Setembro corre em disparada, montado
em seu cavalo baio para chegar, sôfrego amante, aos braços da Primavera, os
dias correndo junto para o ansiado encontro que, conforme as lembranças de lindos
selos comemorativos do tempo da infância, haverá de celebrar-se no dia 22, que
já está bem perto. E olhe que o mês começou devagar, indeciso, uns dias muito
quentes, outros frios, como se quisessem confundir abelhas e andorinhas, mas
não há como perder a entrada triunfal da estação florida. O Sete de Setembro,
por exemplo, chegou e foi-se embora em branca nuvem, sem graça como os feriados
que caem no domingo, e sem a emoção que traziam as celebrações do Dia da Pátria.
Onde, porém, aquelas professoras jovens, bonitas, que insuflavam nos corações
infantis, feito um sopro vital, o fervor do Brasil?
Os hinos e canções que ensinaram ainda
reverberam na consciência e na memória: “Brava gente brasileira! // Longe vá...
temor servil: // Ou ficar a Pátria livre // Ou morrer pelo Brasil!”, a letra de
Evaristo da Veiga, a música de nosso Imperador Dom Pedro, o primeiro; “Ó Pátria
amada, // Idolatrada, // Salve! Salve!”
O Sete de Setembro passou em
branca nuvem, feito qualquer pobre feriado que caiu num domingo. Alguma banda,
algum coral, terá elevado os tons de Francisco Manuel da Silva no refrão
ardente e vivo que, nos tempos da escola, incendiava versos esdrúxulos que mal
podíamos compreender, do estro parnasiano de Osório Duque Estrada: “Deitado
eternamente em berço esplêndido, // Ao som do mar e à luz do céu profundo, //
Fulguras, ó Brasil, florão da América, // Iluminado ao sol do Novo Mundo!”
Na banalização, porém, dissolveu seu
espírito e, junto, qualquer
possibilidade de fervor do Brasil, uma pena, menina. Ah, cantam nos jogos de
futebol, mas sequer como o melhor cântico dos estádios. Nas vozes da malta
torcedora, prefiro, sem desdouro para ninguém, as notas de “Clube Atlético
Mineiro, // Galo forte, vingador...”. Que
outros prefiram outras canções, eis o sal do jogo, a essência da
democracia.
O Sete de Setembro passou em
branca nuvem. Passou mesmo? Quase me esqueço de dizer, menina, que, justo na
manhã do Dia da Pátria, ensolarada e fria manhã, o ipê que pontifica na esquina
de Antônio Albuquerque com Sergipe, na Savassi, em BH, achou de
antecipar a Primavera mostrando-se em todo o esplendor de sua florada
estonteante. Não é extraordinário que ipês floresçam nesta época do ano, mas
intriga o fato de que sempre nos surpreendam, não importa quantas vezes
tenhamos visto o mesmo espetáculo. Talvez seja porque, não sei não, tanto
amarelo assim devolva-nos alguma secreta fagulha do fervor do Brasil que, de
algum modo, nos alegra o coração. (NM)
Olá, Nilseu,
ResponderExcluiré só para fazer um reparo no seu justificado entusiasmo primaveril (com um pudor cívico que o torna ainda mais louvável) que um especialista em ruas de Belo Horizonte (belas lembranças dos textos no EM) não tem o poder de fazer esquina nas paralelas Antônio de Albuquerque e Fernandes Tourinho, embora a beleza do majestoso ipê-amarelo mereça até essas licenças urbanas. Um abraço do amigo LFPerez
Ô Luiz Fernando,
ExcluirVocê tem toda razão. Os muitos anos que venho acumulando já me turvam os sentidos, mas já corrigi. A esquina indigitada é de Antônio Albuquerque com Rua Sergipe. Grande abraço,
Nilseu
Naquele tempo, fazia frio nas manhãs de setembro. A professora levava a criançada ao campo. A grama coberta de fina geada. Então, cavávamos a terra e depositávamos uma semente. Não me lembro mais - lá se vão seis décadas! - mas a gente entoava uma cantiga que dizia alguma coisa assim: pobre sementinha, fica bem quietinha... mas não te aborreças, virei todo dia...
ResponderExcluirCaro Nilseu, a saudade é o alimento da alma. Adorei seu texto.
J.D. Vital - de Barão de Cocais
Bom dia querido Nilseu!!
ResponderExcluirHoje numa rebeldia inquietante... constante...e que me é peculiar...resolvi e decretei internamente: Não começo o meu dia de trabalho sem antes ler o texto do Nilseu. Deve ser ótimo..me bateu uma saudade...nostalgia...Ipê florido...sempre os admirei...pra mim é um símbolo mineiro....(não sei se sabes, mas estou morando em definitivo em Vila Velha).
E não deu outra...ao clicar no "azulzinho" logo surgiu a beleza amarela!!!
Obrigada por ter se lembrado de mim, e mais obrigada ainda por estes belos momentos de imagem e leitura logo assim pela manhã!!
Com isso vou, certamente, encarar o meu dia dia tão turbulento com mais tranquilidade.
Abraço,
Kátia Brügger
Em 11 de setembro de 2014 08:34
Nilseu, com esse texto precioso/despretensioso, você me fez voltar também no tempo e recordar os primeiros versos de uma canção aprendida aos 7 anos no colégio Santa Helena: "O sabiá na floresta / alegremente cantou, / seu coração ´stá em festa / a primavera chegou..." Mas não me lembro de alguma vez ter contemplado na Belo Horizonte de então, com o deslumbramento de agora, o amarelo cegante de um ipê.
ResponderExcluirNilseu, que texto gostoso de ler! Viajei no tempo: me vieram à memória, Dom Gerardo, Charutaria Flor de Minas e manhãs de desfile de 7 de setembro na Av. Afonso Pena. Valeu!
ResponderExcluirMagda Antuña
O JD Vital achou achou no Google a letra de “Pobre Sementinha” e mandou para O&B. Então publico:
ResponderExcluir“Pobre sementinha, com tanta alegria, vou deitar te agora sobre a terra escura, mas não te abandono. Virei todo dia, sobre teu canteiro deitar água fria. Dorme sementinha , fica bem quietinha que, sem te esquecer, cuidarei de ti , e no seio amigo desta nova terra, uma vida nova encontrarás ali. Talvez te entristeças, minha prisioneira, pois ouvir eu penso este queixume teu, nunca mais verás a luz doce, fagueira, nem o sol brilhante nem o azul do céu. Dorme sementinha, fica bem quietinha, que logo, logo, sairá de ti uma vida nova, uns brotos, galhos, uma flor doce e singela, colorida e bela que alguém logo deitará por terra.
E..... assim, sempre será!!!”
Caro Nilseu,
ResponderExcluirAbri nas “azulinhas”, vi, li e gostei – muito.
Abraços,
Danilo Andrade
Em tempo: não se esqueça do Temático...