Gente interessada em filmes, em fazer filmes, roteiros, dirigir,
essas coisas, quando se enturma não tem outro assunto, o que é aborrecido, mas
também divertido, mesmo para quem tenha entendido, de cara, que não ia virar
cineasta de jeito nenhum, sonho universal naqueles primeiros anos 70 entre os alunos
da escola de cinema da Universidade Católica, em BH. Os mais aptos insistiam, mas fora um curta metragem ou outro, um Super 8, pouco
realizaram que merecesse registro. Tudo muito difícil, frustrante.
Manter-se na perspectiva de fã, reconhecer a própria falta de jeito,
de gana e meios para realizar um filme de verdade tinha suas vantagens. Sem maiores pretensões, o sujeito podia contentar-se em
ver nas telas dos cinemas do circuito comercial e nos cine clubes as estrelas
de sempre, Marlene Dietrich, Greta Garbo, Ingrid Bergman, Dorothy Lamour, Maria
Montez, Maria Felix e, claro, as estrelas do momento. Pouco importava a conversa interminável dos
cinéfilos sobre filmes, diretores, atores, cinegrafistas, roteiristas,
continuistas, Cinecittà, neo realismo, Vittorio de Sica, Rosselini, Mussolini,
- Epa, esse não! - Mastroiani, Lucchino
Visconti, Bertolucci, Federico Fellini, Pasolini, Nouvelle Vague, Goddard,
Agnès Varda, Nelson Pereira dos Santos, vá lá, Limite, Humberto Mauro, Deus e o
Diabo, Glauber Rocha, Jeanne Moreau, Belmondo, Anie Girardot, Brigitte Bardot,
Roger Vadim, Jane Fonda, Barbarella, tão bonita!
Era assim nos corredores da Faculdade de Filosofia, onde
funcionava a escola de cinema, nas salas de aula, no laboratório, nas pequenas
e grandes salas de exibição e nos botequins da cidade onde, enturmados,
buscavam cerveja gelada e conversa fiada em intermináveis discussões sobre o
que rolava nos cinemas. O Bar do Chico, na Rua Sergipe com Timbiras, era parada
obrigatória no ir e vir para a escola, na Avenida Brasil, já chegando à Praça
da Liberdade. Muito gelo na cerveja que
servia, do que ninguém reclamava; moelas de galinha vinham num molho
temperadíssimo que, sobretudo em noites mais frias, alegrava o mais
descoroçoado coração. Chico era apenas o garçom, mas tão amável e eficiente,
acabou virando o dono moral do estabelecimento.
Numa noite de grande libação,
discussão acalorada sobre os pequenos e grande entraves que sufocavam, desde a
produção à exibição, a realização de filmes no Brasil. Desinteressado, um
sujeito insistia na ideia de armar uma rede, dessas de dormir, nos sinos da
Catedral da Boa Viagem, bem em frente, para que todos tivessem “ciência e
conhecimento” de que, quando fosse o caso, ele estava namorando. A namorada não dissimulou o tédio nem saiu do
tema ao encerrar o papo furado: – Ô, meu chapa! Deixa de ser exibido!
(NM)
Depois de longos três meses, é muito bom encontrar novo texto, com belas lembranças, num tempo em que estamos todos cansados de tanta esperteza. Que seja só o começo de ano abundante de melhores leituras...
ResponderExcluirEis um comentário realmente anônimo. Mas tão amável e gentil que gostaria de saber quem o enviou.
ExcluirNilseu
Bons tempos!
ResponderExcluirMagda
Nil querido
ResponderExcluirSempre delicioso ler os seus textos! Adorei!!!
Candida
Texto gostoso, sobre um ambiente que conheci muito bem, na década de 70, quando dava aula no Pitágoras Timbiras. Ali, no Bar da Esquina, ou Bar do Chico, a gente almoçava e, à tarde, tomava umas tantas. Muito bom lembrar!
ResponderExcluirTamb'em frequentei o ar do Chico, mas ja nos anos oitenta e não sei se ainda com esse nome, mas trago boas recordações dos amigos e dos temas da conversa, política, claro!
ResponderExcluirGrata pela oportunidade de recordar..
Raquel joane