Manhã de domingo, trânsito interditado na Savassi, um turista ou outro tirando fotos
ao lado da estátua de bronze do escritor Roberto Drummond, crianças patinando,
andando de bicicleta ou apenas correndo de um lado para outro no leito de ruas
e avenidas sem automóveis, cachorros passeando seus donos e donas, umas bem
bonitas. O blogueiro fotografa, distraído, os ladrilhos da Avenida Getúlio
Vargas enfeitados de amarelo pela florada de sibipiruna (Caesalpinia peltophoroides), que, pontualmente, chegou a BH com a
Primavera.
Pois é. As flores das quaresmeiras chegaram primeiro, sempre
chegam, com todos os tons da Paixão; em março, abril, é a vez do rosa clarinho
das gordas paineiras, que tanto alegram os periquitos e outros psitacídeos que
se mudaram para BH por causa dos incêndios e queimadas que lhes devastam
sistematicamente o habitat. Em julho
vêm as deslumbrantes inflorescências dos ipês roxos para assumir seu
protagonismo incontrastável nas ruas, avenidas, praças e parque da cidade. Isso
por umas quantas semanas, quando, então, saem da paisagem para dar vez à dourada
explosão dos ipês amarelos, logo substituída pela passagem fugaz dos ipês
brancos, grinalda digna para as bodas de qualquer Vênus de Botticelli.
Agora, são as douradas panículas da sibipiruna que enfeitam a
cidade e alegram o coração. Elas decrescem da base para o ápice, criando
graciosas formas piramidais que oferecem delicada sugestão de lanternas
chinesas. Os folíolos minúsculos e as pequenas pétalas se desprendem e forram o
chão, mesmo que seja pavimentado e
hostil, com seus matizes generosos. O Sol da Primavera na manhã tranquila se deixa filtrar pelas copas espessas e chega com suavidade ao leito da avenida,
para espevitar o grato fulgor da
insólita tapeçaria. (nm)