Pitigrilli (Dino Segrè) escreveu, em crônica antológica no início dos ano 50, que piropo é uma das mais bonitas palavras
da língua espanhola: “Como o piropo,
uma espécie de granada resplandecente, com reflexos de chama, esta palavra
contém a solidez do mineral e a luz variável do Sol. É uma das mais belas
expressões da língua espanhola, dizia eu, no sentido figurado. O seu
equivalente italiano complimento, o
francês compliment, estão viciados
por um defeito constitucional, que certo etimologista original fazia derivar do
latim complete mentiri, mentir
completamente.”
O escritor acrescenta que piropo
“é a primeira palavra que desperta a atenção da bela europeia desembarcada
em Buenos Aires. Palavra cálida, luminosa, sonora, que um imaginativo mal
informado em matéria de mineralogia poderia confundir com uma flor rubra e
amarela, perfumada como um cravo, grande como um crisântemo e atormentada como
uma orquídea. Josephine Baker, que neste momento canta
suas canções no Rio da Prata, já se apaixonou por esta palavra, que pronuncia à
francesa: Pirhopô.”
Como é bonito um pirhopô! teria dito a cantora.
Na paráfrase famosa do poema de Amado Nervo, Le Pera alinha
uma delicada sucessão de piropos, como o que se segue: El día que me quieras // Endulzará sus
cuerdas // El pájaro cantor. Em "Maria Bonita", Agustin Lara lembra haver adulado Maria Felix com piropos: Te dije muchas palabras, // de esas bonitas con que se arullan los corazones. Muitos piropos, também, na canção “Maria Dolores”: (...) en tus ojos, en vez de mirada, hay rayos de sol (...) Te mueves
mejor que las olas (...) Envidia te
tienen las flores (...) etc., tudo da lavra feminina de Sarita Montiel que,
ao fim e ao cabo, renuncia à pluralidade pela unidade monolítica da própria
canção que compôs: Y en vez de decirte un
piropo, María Dolores, // Te canto un bolero. Talvez mais que a Maria Dolores, Sarita tenha merecido ao
longo de sua vida intensa, incontáveis piropos,
de Gary Cooper, Hemingway, Indalécio Prieto, o líder socialista espanhol em seu exílio
republicano no México, James Dean... Na foto, comprazida, talvez ouvisse piropos do ícone da juventude transviada. Porém,
nenhum mais tremendo que aquele do poeta León Felipe:
La Mancha en tí,
mujer, y en mi corazón el dardo.
Loura, lourinha, de
olhos claros de cristal, // Desta vez, em vez da moreninha, // Tu serás rainha
do meu carnaval, piropo bonito, do Braguinha. Antes ele já viera com aquilo de Linda morena que me faz penar, // a lua cheia, que tanto brilha // não brilha tanto quanto o teu olhar.
Aqui, meramente diamante pequeno, mineral, portanto, como a
granada, e que também carrega sua fração de Sol, pura luz, um insólito xibiu de
palavras apócrifas de grande circulação nos anos 60:
Se cada vez que pensasse
em você,
caísse um pedaço de mim,
cadê eu!
As mulheres desses nossos tempos estranhos, como as do século passado, sabem distinguir um piropo para não renunciarem a galanterias a que têm
direito. E não precisam de juízos fundamentalistas para reconhecer e repudiar manifestações
insultuosas ou assédios grotescos ou brutais, capitulados no Código Penal e
que não podem ser postos no mesmo plano do cumprimento devido, compliment, complimento. Ora! Piropo é
piropo, afaga o espírito e alegra o coração. Assédio molesta, chateia, ofende e fere, cruz credo! (nm)
OLÁ NILSEU,
ResponderExcluirADOREI.... BOAS LEMBRANÇAS DO GALANTEIO GENTIL E DO BEIJO ROUBADO.
UM ABRAÇÃO,
DA GRAÇA
P.S. Encontrei o Cláudio Antuña flanando pela Savassi e ele me repassou uns piropos que colheu não se sabe onde, pelo jeito, de tiragem platina, uma pequena antologia:
ResponderExcluirSi tuviera que regalarle algo, te ragalaria um espejo,
porque después de ti, lo mas lindo es tu reflejo
Por um momento creia que me había muerto y habia entrado en el cielo. Pero ahora veo que estoy vivo, y el cielo ha venido a mi.
Si ser sexy fuese um delito, te passarias la vida em la cárcel.
Le importa si la miro durante um ratito? Quiero recordar sua cara para mis sueños.
Perdona, pero la reconozco. ?No fuimos locamente felices y casados en una vida anterior?
Debes estar cansada hoy, después de todo lo que hicimos em mi sueño anoche.
He oído tu cuerpo llamarme desde el outro lado del salón.
Bom dia, Nilseu,
ResponderExcluirEm tempos de mulheres tão bravas, todo cuidado é pouco, mesmo com elaborados “piropos”... Na verdade, para simplificar, o que ocorre é que, se uma mulher não estiver a fim de um homem, o mais refinado galanteio vai soar como ofensa. Contudo, se ela estiver apaixonada, a observação mais chula e grosseira vai parecer sexy e estimulante.
Aproveito para falar de seu novo livro, Asas de Bolero, uma delícia da primeira à última palavra. As referências intertextuais são de uma riqueza extraordinária, a reconstituição do clima dos anos 60-70, perfeita. Contudo, acho que deveria cobrar à parte pelos capítulos Coração Materno, Sexo dos Anjos e por todos que integram a parte "Em BH". Neles, seu humor atingiu um grau difícil de igualar.
JM Santos
Caríssimo professor,
ExcluirSeu comentário sobre os "piropos" são de total pertinência. É isso mesmo. Devo, porém, dizer que você continua um campeão da generosidade e da gentileza. Suas palavras sobre ASAS DE BOLERO afagam tremendamente o ego do autor. Muito obrigado.
Amo deliciar-me com Deus textos.
ResponderExcluirMirtes Rauen
Nilseu,
ResponderExcluirMuito agradecido por me ensinar uma palavra essencial, "piropo", que eu desconhecia. Cresci e enriqueci.
Abraço
J.D.VITAL
Pois é, J.D. Granada, pedra bonita, ou galanteio, "piropo" é boa palvra.
ResponderExcluirNilseu, adorei o piropo! Estou com um Geólogo aqui do meu lado, que o parabenizou pela perfeita definição do mineral! Excelente analogia com os raros galanteios de hoje. Estou adorando ler o seu livro. Um abraço. Raquel
ResponderExcluirNilseu, adorei o piropo! Estou com um Geólogo aqui do meu lado, que o parabenizou pela perfeita definição do mineral! Excelente analogia com os raros galanteios de hoje. Estou adorando ler o seu livro. Um abraço. Raquel
ResponderExcluirQuerido Nilseu,
ResponderExcluirDizem que é bom aprender coisas todos os dias. Pois hoje aprendi a palavra "piropo" do espanhol e já ousei pôr no assunto do e-mail uma afirmação.
Gostei muito da sua intervenção na ampla discussão acalorada de mulheres norte-americanas e francesas. Penso exatamente como você: qual mulher não gosta de um galanteio, cumprimento, elogio? E daí para ser chamado de assédio há uma enorme distância.
As francesas se expressaram mal, do jeito que escreveram, parece que aceitam o assédio que incomoda e traz horrível sentimento para o coração de uma mulher. Elas chegaram a dizer que não há problema se um homem, no decorrer de conversa profissional, ponha a mão no joelho da mulher.Ora, ora, nenhum homem de bom-senso faria isso, sem intencionalmente mostrar à mulher o que está sugerindo. Fiquei mesmo chocada com as atrizes francesas que assinaram o tal documento. Qualquer mulher sabe muito bem distinguir quando se trata de galanteio e quando se trata de assédio.
Grande abraço
Marilia
Nilseu, bom demais!E que vivam os piropos!Sempre!
ResponderExcluirMagda