Alarido alegre, de risco em risco, silhuetas aladas
maritaqueiam. Hieróglifos em movimento, vivos, à espera de algum champolion que
os decifre, quem sabe uma cigana experimentada para extrair deles o que nos
reserva o futuro. Não sabeis? Os textos fluidos revelam ritmos que a roda do
Tempo caprichosamente esconde, escancaram correspondências que o Universo às
vezes só mostra aos profetas e a um ou outro poeta: Panta Rei, o rio de Heráclito, o Rio de São Francisco (corre de noite e de dia), o córrego da nossa
infância que, de vez em quando, ainda rumoreja no coração. Tudo flui.
Fluem a lua, as estrelas, a Noite não cessa nunca. O Cosmo flui, desabrido, em todas as direções, e será deste modo até esvair-se na grande escuridão dos tempos: inscrições nas tumbas dos faraós, Ramsés; oráculos devastadores, Omar Khayyam, Baudelaire... Fluem as sombras escuras dos galhos de uma árvore morta. Irrequietos psitacídeos agarram seu fragmento ínfimo de eternidade e, por um momento, incorporam o Estro universal e convertem-se num pequeno poema elegíaco por um mundo que, para sempre, está sendo deixado para trás ou, apenas, indo embora depressa.
(NM)