É. Belô não tem mar. Não tem não. Mas tem bar, muito bar, tanto bar que só cê ven`, pra todo gosto, em todo lugar. A gente precisa escolher, definir preferência de antemão pra não ficar confuso. Estabelecer exclusividades é ocioso, mas é bom considerar a questão a partir de uma lista mais restrita antes de seguir adiante. Bares, os melhores, são entidades vivas, com as quais as interações afetivas são naturais e inevitáveis, determinadas, no mais das vezes pelos garçons. No antigo Jangadeiro, na Rua da Bahia, pontificou, em seu tempo, o excelente Protásio; na esquina de Sergipe com Timbiras o nome do estabelecimento foi vencido pela solicitude e gentileza do garçom e ficou mesmo Bar do Chico; a Cantina do Lucas, na galeria do Edifício Maletta ainda guarda memória viva do seu Olímpio, mitológico garçom. Na Savassi, Ivan e Jorge dão o tom ameno e cordial do Gujoreba; Márcio, o maitre, faz as honras no Redentor.
Menina linda eu lhe adoro, ah,
Menina pura como a flor, oh, oh, oh,
Sua boneca vai quebrar, ah, ah, ah,
E tem o Bar do João, na Rua Tomé de Souza, entre Pernambuco e Getúlio Vargas, que virou malhadouro dos velhos jornalistas que afluem às mesas enfileiradas em sua calçada nas noites da primeira segunda-feira de cada mês. Às vezes, até uma ou outra história de jornalismo na conversa, que é fluida e variada ao longo da noite. João, o dono do bar, é natural de Diamantina, a estrela mais brilhante do Espinhaço, o que impõe certas obrigações, como a de distribuir pequenos feixes de sempre-vivas às damas que prestigiam a tertúlia. Isso pode suscitar reminiscências antigas, como as que remetem a um jovem que achou de exorcismar amargor de amor com umas redondilhas toscas, tola impaciência. Era preciso esperar, esperar o rodar do mundo e do tempo: podia ser nas patas do cavalo do vaqueiro de Geraldo Vandré ou na roda viva do Chico Buarque, mas rodar, rodar, enfim, rodar...
O disco solar plasma no tédio sideral do final das eras, acetato cósmico, a setenta e oito rotações por minuto, um tango daqueles mais doloridos ou uma canção de Antônio Maria, que também dói. (nm)
CAMPO DE MINAS
num lindo campo de minas.
doce é rolar na grama
com a mulher que se ama.
cantarolando ária alegre,
foi colhendo sempre vivas,
as cores, todas, do espectro,
levando em mãos de menina,
as formas caleidoscópicas
davam-lhe ares de ninfa.
nos longos cabelos negros,
brilhando, gérbra amarela.
erguido feito uma tocha,
o bouquet resplandecia
ao sol e ao sorriso dela.
veio, então, a explosão:
BUMMMM!!!!
chuva de pétlas, miúda.
Rib. Preto/68 (nm)