domingo, 10 de setembro de 2023

Bares, bares, bares e sempre-vivas

É. Belô não tem mar. Não tem não. Mas tem bar, muito bar, tanto bar que só cê ven`, pra todo gosto, em todo lugar. A gente precisa escolher, definir preferência de antemão pra não ficar confuso. Estabelecer exclusividades é ocioso, mas é bom considerar a questão a partir de uma lista mais restrita antes de seguir adiante. Bares, os melhores, são entidades vivas, com as quais as interações afetivas são naturais e inevitáveis, determinadas, no mais das vezes pelos garçons. No antigo Jangadeiro, na Rua da Bahia, pontificou, em seu tempo, o excelente Protásio; na esquina de Sergipe com Timbiras o nome do estabelecimento foi vencido pela solicitude e gentileza do garçom e ficou mesmo Bar do Chico; a Cantina do Lucas, na galeria do Edifício Maletta ainda guarda memória viva do seu Olímpio, mitológico garçom. Na Savassi, Ivan e Jorge dão o tom ameno e cordial do Gujoreba; Márcio, o maitre, faz as honras no Redentor.

 O Tip Top anunciou que sairá de seu tradicional endereço na Rua Rio de Janeiro, expulso pela especulação imobiliária, uma pena, mas outras portas abrem-se para velhas confrarias que cultivam e cultuam grandes e pequenas celebrações etílicas, em libações que sustentam a sempre inconclusiva e interminável conversa fiada, fonte de alegria e saber, sal da vida. O recém-aberto Esquina Santê (Divinópolis com Silvianópolis) tem o clima de Santa Tereza, muito acolhimento e aconchego. E tem Mirtes, cantora, e Sílvio Scalioni, líder do Boca de Sino, banda prestigiosa e querida, o repertório de final dos 60, 70, 80 etc: 

Menina linda eu lhe adoro, ah,

Menina pura como a flor, oh, oh, oh,

Sua boneca vai quebrar, ah, ah, ah,

E tem o Bar do João, na Rua Tomé de Souza, entre Pernambuco e Getúlio Vargas, que virou malhadouro dos velhos jornalistas que afluem às mesas enfileiradas em sua calçada nas noites da primeira segunda-feira de cada mês. Às vezes, até uma ou outra história de jornalismo na conversa, que é fluida e variada ao longo da noite. João, o dono do bar, é natural de Diamantina, a estrela mais brilhante do Espinhaço, o que impõe certas obrigações, como a de distribuir pequenos feixes de sempre-vivas às damas que prestigiam a tertúlia. Isso pode suscitar reminiscências antigas, como as que remetem a um jovem que achou de exorcismar amargor de amor com umas redondilhas toscas, tola impaciência. Era preciso esperar, esperar o rodar do mundo e do tempo: podia ser nas patas do cavalo do vaqueiro de Geraldo Vandré ou na roda viva do Chico Buarque, mas rodar, rodar, enfim, rodar...

O disco solar plasma no tédio sideral do final das eras, acetato cósmico, a setenta e oito rotações por minuto, um tango daqueles mais doloridos ou uma canção de Antônio Maria, que também dói. (nm)


CAMPO DE MINAS


fui passear com meu amor 

num lindo campo de minas.

doce é rolar na grama

com a mulher que se ama.

cantarolando ária alegre,

foi colhendo sempre vivas,

 

as cores, todas, do espectro,

levando em mãos de menina,

as formas caleidoscópicas

davam-lhe ares de ninfa.

nos longos cabelos negros,

brilhando, gérbra amarela.

 

erguido feito uma tocha,

o bouquet resplandecia

ao sol e ao sorriso dela.

veio, então, a explosão:

BUMMMM!!!!

chuva de pétlas, miúda.

 

Rib. Preto/68 (nm)

29 comentários:

  1. Grande Nil... poeta, aposentado e perigoso... viva!

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    1. Caríssimo Panther:
      Você não se identificou, mas deu pra reconhecer sua letra. Grande abraço e muito obrigado.

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  2. Nilseu, vamos nos encontrar lá.

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    1. Vamos sim, certamente. E aí saberei quem enviou esta mensagem.

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  3. Querido Nilceu, que coisa, sô! Só você mesmo pra despertar em mim a vontade retomar conversas fiadas de botecos... delícia!!

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    1. Muito bem. Retomemos a conversa enquanto tomamos chope. Só não sei (ainda) quem mandou o comentário.

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  4. Amei, como sempre , arrasou!

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    1. Obrigado pelas palavras gentis, mas gostaria de saber quem enviou.

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  5. Saudades dos bons tempos passados em que era natural para mim frequentar bares. A velhice e a saúde não permitem mais, mas a leitura dos textos do Nilseu continuam prazerosos, alegrando meu ócio.

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    1. Caríssimo Zé: Sua presença alegra e enriquece este O&B. É bom demais ter leitores da sua estirpe.

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  6. Grande Nilseu,
    Acabo de encaminhar para bons amigos a ronda de bares com a qual você nos provoca em seu blog.
    Como eu sou um cidadão da roça, tenho ido pouco à Cidade (BH) mas a qualquer hora apareço.
    Forte abraço,
    Lindolfo

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  7. Ô, Lindolfo:

    Que alegria ter você aqui em O&B. Venha sempre.

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  8. Grande expert de bares e assemelhados, valeu a dica. Parabéns, mais um belo texto para nossos futuros comes & bebes urbanos, regados a papo furado. Abração Fabbrini

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  9. Ô, Fabbrini, sua presença aqui neste O&B é sempre uma alegria. Obrigado

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  10. Querido amigo Nilseu, precisamos urgentemente conhecer esse Bar do João!!! Como deve sabe, toda a família de meu pai era diamantinense. E as sempre-vivas ilustram um de meus livros - aquele sobre a Estrada Real. Muitos motivos para ir conferir. Mas o principal é: você está lá todas as segundas?

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    1. Querida amiga Angela:
      "Sem a referência à Estrada Real ("Um Verso a cada Passo", suponho, não teria identificado você, porque seu comentário chegou realmente anônimo. Mas foi ótimo que tenha chegado, pois sua presença aqui neste O&B sempre enriquece e blog e alegra o blogueiro. Sobre o Bar do João: despretensioso, sem maiores sofisticações, atende bem e oferece uns tira-gostos dos mais honestos. Mas não vamos lá todas as segundas, apenas na primeira segunda-feira de cada mês. Grande abraço

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  11. Os nossos cumprimentos saudosos. a) Fernando Soares Rodrigues

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    1. Ô, Fernando:

      Que bom ter sua presença aqui neste O&B. Ao menos pra isso serve o rescaldo de uma boa tertúlia: retomar contato com amigos há muito dispersos. Grande abraço

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  12. Nil, sempre poeta!.... Adorei, sempre ótimo te ouvir, ler e ganhar feixes de sempre vivas! Triste é BH, sucumbindo à especulação imobiliária, com uma pressa inexplicável, em inúmeros bairros... Mas viva os encontros e as gargalhadas no Bar do João, na calçada.

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    1. Cândida:

      Que bom ter você compartilhando deste O&B, sempre um alento para qualquer blogueiro morrendo de preguiça! Enquanto houver uma calçada generosa, acolhedora, com todas as etilidades ao nosso alcance, a gente vai levando.

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  13. Caro Nilseu,
    Grande prazer em reencontrá-lo aqui.
    Meu abraço afetuoso.
    Ariosto

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  14. Só de você acusar o recebimento da correspondência de O&B, prima, já foi motivo de alegria e júbilo para mim.

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  15. Nilseu,

    Muito obrigado pelas do Ociosidades & Bagatelas, que sempre aprecio muito. Moro no quarteirão de baixo da rua do Bar do João na mesma calçada. É o meu caminho e noto que o bar é o preferido dos boêmios raízes da cidade. Ás vezes passo 2ª feira e vejo a sua animada turma. Mas, embalo mesmo tem aos sábados à noite, regado a cerveja, tira-gosto, música e dança. E muito papo. Qualquer dia dou uma parada para me ambientar.

    Abração,

    Daniel.

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  16. Valeu, Daniel. Obrigado, mais uma vez, por sua presença aqui em O&B

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  17. Olha, querido Nilseu, de bar nada entendo, mas de texto, entendo até um pouco, e o seu é tão bom de ler, que li com tanto gosto, que até tomaria agora um pouquinho de um chopp bem gelado!

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  18. Ô, Marília:
    De vez em quando a Zezé fala num chope desses, mas fica só no papo. De repente a gente pode dar conseqüência às coisas e partir logo para a suave libação, de preferência na Savassi.

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  19. Nilseu, eu sou o Manoel Pimenta de São João del Rei primo do querido João Pimenta, proprietário do Bar da Savassi, sempre que vou a BH, almoço em seu bar, comida de primeira categoria!

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