terça-feira, 18 de novembro de 2014

Voar é o que importa

Chegou ontem, da África do Sul, e me alegrou, como sempre, mensagem da Sônia Galastro:
“Pedi permissão à minha amiga para enviar-lhe o poema que ela fez inspirada pelo tema de um de nossos saraus: `Voar com asa ferida?´. Esta frase é de um poema do Leminski. Espero que goste.
Sônia”

Gostei sim, Sonel. E me permito postar o texto da Flávia para compartilhá-lo com os amigos de O&B.
(NM)                      
ASA FERIDA 
Habita em mim um pássaro migrante
que anseia flores mas adentra o bosque em chamas.
Visita sombras onde apenas brota o musgo,
velhos dormentes sob trilhos esquecidos,
carrilhões silenciosos onde as horas não ressoam.

Habita em mim um sabiá dolente 
que inveja o rouxinol de colorido canto,
e busca melodias sem queixa, sem lamentos,
bem-te-vi de olhos vendados, cego de horizontes,
pois enxergou demais  e se calou de espanto.

Habita em mim uma andorinha solta,
diversa de outras tantas se movendo em bando.
Seu pouso não disfarça a extensa trajetória 
na rota das mudanças, nuvens passeando...,
das voltas e distâncias já perdeu a conta.

Habita em mim um tiê-sangue agreste,
o rubro peito aceso no desejo à vida.
A sorte se ausentou, o sonho foi desfeito
e ainda assim insiste alçar-se em céu aberto
- sobrevoar desertos mesmo com a asa ferida. 

Flávia
30.10.2014 

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