iQué bien los
nombres ponia
Quien puso
Sierra Morena
a esta
serrania!
(Antônio
Machado)
Canastra, Mãe das Águas (riosvivos.org.br)
Cáucaso, acorrentado num rochedo
o destino de Prometeu, Ararat, porto e guarida da grande Arca; corte e conselho
de deuses muito antigos, o Himalaia; passagem difícil para os elefantes de
Aníbal, os Alpes; bijou ao pé do Mont
Blanc, Chamonix exibe suas neves, no nome, o ritmo de redondilha. E os Andes, de
Tupac Amaru, do lago Titicaca e do Urubamba, Olantaitambo, Machu Picchu, Huayná
Picchu? Cordilheira, também, de alpacas e vicunhas, e do condor, sim senhor! Eleva-se
na paisagem deslumbrante a “Sentinela de Pedra”, com suas torres brancas e o
nome que merece o respeito dos homens e, na voz do hierofante, alegra mais que
um salmo o coração dos deuses: Aconcágua!
Sempre a sonoridade grata, às
vezes áspera, branda às vezes, nos nomes que, em toda parte, emergem da Terra ao
levantar-se em direção ao céu alto e que se expandem pelo Orbe, música, como se
as montanhas cantassem. Les Pyrenées, os
Picos de Europa, a Cordilheira Cantábrica; os Apeninos, montes da Itália e da
Lua; e o Olimpo e o Parnaso, os Cárpatos, The Rocky Mountains, Fujiyama, Momotombo, da Nicarágua, feito o Vesúvio e o Etna é montanha que fuma e deita fogo; os Montes Atlas, Lalla-Kadidja e os demais; o
Quilimanjaro, o Monte
Quênia, mansão dos ancestrais Quicuios, guia e arrimo dos Mau-Mau. A gente pode
até pensar se a glória de Roma seria igual sem a magia de suas colinas,
impregnado de poesia o nome de cada uma: Palatino, Quirinal, Aventino, Monte
Célio, Viminal, Capitólio, Esquilino...
A Sierra
Maestra acolhe aquele “cierbo herido” de Marti, “que busca en el monte amparo”
e muitos cubanos pronunciam seu nome de puro encanto com reverências que só à
própria mãe são devidas. “Por la Sierra
Morena, a dos mexicanos, Cielito
lindo, venian bajando, un par de ojitos negros, (...) de contrabando”; a da
Espanha, por direito de poeta, pertence a Antonio Machado, assim como umas cantábricas peñas a Gustavo Adolfo
Becquer. Desde Puertu de Payares a gente avista lá embaixo, resplandecente, o
verdor dos vales de Astúrias, um deslumbramento! Guadarrama, Guadarrama,
primeira linha de defesa da Madri republicana, suas pedras altas; Sierra Nevada
da sultana Aixa, branca Lua de Granada, e de Garcia Lorca, Lorca, e Manolo
Caracol!
Repartidora de grandes águas,
para o Sul, o Rio Grande, para o Norte, o Rio de São Francisco que, serpeando
Nordeste afora, vai saciando muitas sedes, Serra da Canastra! Umas vaquinhas de
longos chifres escalavam feito cabras
montesas, já faz tempo, as encostas íngremes, para alcançar moitas
nativas de capim gordura. Um litro de leite a cada dia, porém riquíssimo, para
nutrir sua cria e ensejar o queijo sem igual; uma vaca de estábulo, vinte
litros ou mais, porém, queijo nenhum que leve com dignidade o prestígio de seu nome
mágico.
Pão de Açucar, Morro da Viúva,
Serra do Curral, da Moeda, Serra do Salitre, Serra do Rola Moça, da Borborema, Serra
da Mantiqueira, Morro do Papagaio, Monte Pascoal, Monte Azul, Monte de Vênus, epa!
Sem grandes proeminências na Geografia, a Serra da Boa Esperança, “Esperança
que encerra (...)”, nos versos de Lamartine, eleva-se até as estrelas. Serra do
Mar, Serra Geral, dos Órgãos, Serra do Caparaó, o Pico da Bandeira, mais alto
do Brasil antes de umas medidas mais recentes darem primazia ao Pico da Neblina
de misteriosas brumas, sem desprestígio algum a velhos cadernos escolares ou à
memória da infância. Muito menos à professora, que ensinou, está ensinado e
muito bem aprendido.
Pico do Itacolomi, “menino de
pedra”, “pedra que balança”, em idioma Tupi, ou “farol dos bandeirantes”, totem
da antiga Vila Rica e desta Ouro Preto de agora, infestada de turistas,
testemunha silenciosa da execução de Felipe dos Santos e de uma onírica conjura
de poetas: lirismos arrebatados, Gonzaga, Alvarenga, “Bárbara bela do Norte,
Estrela ...”
Com seus foros de cordilheira,
ergue-se o Espinhaço por léguas e léguas de longitude, uma tripa, considerando
a latitude ínfima; seria todo em Minas, mas não pôde resistir à tentação de
esticar-se até a Bahia. Quem é que pode? Manda muitas águas direto para o Mar,
mas reserva outras muitas para o São Francisco, que, portentoso esbarro, rebate
rumo a seu destino; encrespa e eriça suas pedras pretas nas alturas de
Diamantina, tremendo arrepio telúrico orientado todo para o Norte, pente de
Minas, magnífico, que gemas preciosas enfeitam, umas grandes, muitas pequenas,
xibius.
(NM)
Nilseu,
ResponderExcluirvocê continua um belo escritor modesto e batalhador.
Seus admiradores, certamente, curtem seus escritos e suas propostas para que eles sejam lidos, relidos e guardados em corações e mentes.
Grande abraço para você,
Washington Mello.
Ô Washington,
ResponderExcluirNem tão modesto assim. Suas palavras me alegram e envaidecem muito. Obrigado,
Nilseu
Das montanhas, especialmente de Minas e da Espanha, às fábulas dos animais, até então ignoradas pelo leitor contumaz, tudo faz com que este sábado de maio seja muito promissor. Obrigado, LFPerez
ResponderExcluirCaro Nilseu,
ResponderExcluirSenti falta da Serra da Cambota, onde fica o Garimpo, a serrania mais fantástica e cantante de Minas Gerais. De lá, você vê a Vila de Cocais a seus pés e, lá longe, a Vila do Curral Del Rey.
Parabéns. Você alegrou meu sábado.
J.D. Vital (que não sabe fazer comentários direto no blog por ser da vanguarda do atraso)
Ô J.D.,
ExcluirPalavras feito as suas e as do Luiz Fernando mais do que alegram o meu sábado: elas dão sentido e substância ao blogue e tornam o escrever um exercício gratificante e prazeroso. Obrigado.
Nilseu
Que texto lindo, Nilseu. Quisera eu conseguir escrever assim. Muito lindo mesmo. Montanhas.
ResponderExcluirAbração
Marlyana Tavares
(Quando tiver tempo visita meu blog o Planejo Viajar (www.planejoviajar.com.br). Me dá sua opinião!
Ô, Marly,
ResponderExcluirObrigado por suas palavras generosas. Muito bom ter notícias suas. Grande abraço,
Nilseu
P.S. Já estou indo lá no "Planejoviajar"
Belo, belísimo, Nilseu. Bravo, bravo,bravo!
ResponderExcluirGerro
Em todas as serras que efetivamente pensei, estão lá.Texto leve, trabalhoso,de grande boniteza e erudito.Geograficamente alegre.
ResponderExcluirUm grande abraço.
Paulo Sergio
Ô, Paulo,
ExcluirBom, ter sua presença aqui. Suas palavras não poderiam ser mais generosas. Obrigado.
Nilseu
Amigo Nilseu, você, como sempre, dando aquele banho de cultura e bem escrever! Viajei por todas essas montanhas e fiquei feliz de terminar a viagem em Diamantina, terra de minha família paterna... Parabéns, belíssimo texto!
ResponderExcluirObrigado, Angela, por palavras tão amáveis. Diamantina é um caso de paixão universal. Todos levamos a cidade de Chica da Silva no coração.
ExcluirGrande abraço
Meu caro Nilseu
ResponderExcluirRecebi com muita alegria o seu blogue e adorei o seu texto sobre a nossa Canastra e aproveitei para viajar nas serras, montanhas e cordilheiras distribuídas com a sua historia pelo nosso Planeta.
Um cordial abraço do amigo,
João Lincoln
Lindo texto, saudade das montanhas da minha Minas Gerais. Grande abraço
ResponderExcluirHelô
Helô, querida,
ResponderExcluirObrigado por suas palavras gentis. É bom ter você aqui em O&B.
Grande abraço,
Nilseu