Romanos
Gaius Caesar Germanicus, o Calígula (31 de agosto, AD 12 - 24 de janeiro, AD 41), imperou em Roma entre 37 e 41, quando foi assassinado pela guarda pretoriana, aos 29
anos. Filho mais novo de Germânico e Agripina, era bisneto de César Augusto e sobrinho-neto de Tibério, excelente linhagem, pois. Perseguiu, prendeu e
torturou amigos e inimigos, fez cometer milhares de assassinatos, mas reprocham-lhe,
sobretudo, haver nomeado senador o seu cavalo Incitatus. De modo nenhum isso faz justiça ao animal que, ainda hoje, não
haveria de fazer má figura em parlamentos de pequenas e até de enormes
repúblicas.
Incitatus, como
os de sua ordem eqüidea, jamais mentiu, algo que o desqualificava no senado
romano e também desqualificaria nos senados atuais. No mais, “calígulas” mínimos tiranizam pequenos e grandes impérios
por toda parte, graças à natural
dificuldade do rebanho humano em encarar o próprio destino e tomar decisões que lhe seriam próprias e
intransferíveis. Um pouco de esperteza, outro tanto de audácia, alguma sorte, e
temo-los encarapitados no poder, mandando e desmandando – parece que desmandar
é ainda melhor que mandar, mas, ao fim e ao cabo, conta mais a virtude do cavalo.
Persas
Heródoto relata
que uma inscrição ao pé de uma estátua de Dario, o Grande, proclamava que ele ascendera ao trono da
Pérsia “pela virtude de seu cavalo”. Na base da educação, nos tempos de Dario: “Um persa
precisa saber montar a cavalo, atirar flechas com arco e dizer sempre a
verdade.” Fora a questão das flechas, a fórmula ainda poderia viger com
proveito em países grandes da América do Sul, quiça (ou seria cuíca?) do mundo inteiro.
Mineiros
– “Veloiz”? Por que você deu esse nome ao cavalo, Serafim?
– Por quê? Porque ele é ligeiro que só cê vendo.
E, baixinho, para que o interlocutor não ouvisse: – Gente de cidade grande “faiz” cada pergunta esquisita!
Genésio, porém, ouviu, e não conteve o riso. Apenas,
desistiu daquela conversa, conformado com o fato de que é nessa prosódia que um
castanho brioso e forte do Sudoeste pode entender seu dono. (NM)
Nilseu: Adorei os textos!Diversão e aprendizado! Muito bom! Um abraço, Raquel
ResponderExcluirOi Raquel,
ResponderExcluirBom ter sua companhia aqui em O&B. Obrigado pelas palavras gentis.
Grande abraço,
Nilseu
Nada como lições cavalares, para mostrar a lamentável realidade parlamentar de pequenas e até enormes repúblicas.
ResponderExcluirGrande amigo Nilseu: repetindo Drummond, "perdi, ganhei meu dia" ao ler esse seu oportuníssimo texto! Estou até querendo repassá-lo a uma amiga, especialmente desiludida com os calígulas e as cavalgaduras (menos nobres que o Incitatus)que desgovernam nosso país. Posso? Parabéns, abração!
ResponderExcluirCaríssima Angela,
ResponderExcluirSua presença aqui sempre alegra e eleva este O&B. Obrigado por suas palavras amáveis e repasse o que você quiser, para quem você quiser. O privilégio é todo meu.
Grande abraço,
Nilseu
Bom amigo Nilseu:
ResponderExcluirDepois do presente que elaborou para seus leitores na postagem anterior, provando com as montanhas locais e as estrangeiras que é um poeta que consegue atingir alturas insuspeitadas em momentos de brilhante inspiração, você nos surpreende com dois cavalos históricos e um bem mineiro, para equilibrar e não parecer metido...
Incitatus não se sentiria confortável em um senado como o brasileiro, certamente, já que se trata de um local há muito ocupado pelos ratos. Curioso é que, apesar dos comentários que vêm atravessando os séculos a respeito de Calígula, que teria nomeado seu querido cavalo senador, a fonte à qual se recorre para confirmar esse fato, o historiador romano Suetônio, não afirma isso. O que escreveu Gaio Suetônio Tranquilo a respeito do assunto fica no plano da pura boataria:
“Fez construir para ele uma cavalariça de mármore, um cocho de marfim, mantas de púrpura e colares de pérolas; deu-lhe casa completa, com escravos, móveis (...) e até se diz que lhe destinava o consulado.” Como essa é a única referência que Suetônio faz a Incitatus, esse “ ... e até se diz” expressa muito bem que aquilo que foi situado no plano do simples boato acabou transformando-se, com o tempo, em verdade histórica.
Como Calígula restringiu o poder do senado e humilhou publicamente os senadores, muito do que se fala dele não é confiável: propaganda negativa não é criação contemporânea... Observe que Nero passou à História como um monstro: os cristãos construíram esse perfil a fim de se vingarem da perseguição que o imperador lhes moveu . Na verdade, os imperadores romanos eram bastante semelhantes: eram cruéis em uma época em que a crueldade era uma forma de diversão. As pessoas se divertiam com as matanças em circos, como os torcedores se divertem nos estádios de futebol hoje. A crucificação era um espetáculo recorrente e banal para os sentenciados do povão.
Fez bem em terminar a postagem com o “Velóiz”, Nilseu: rir ainda é o melhor remédio contra o drama. E você sabe fazer isso melhor que ninguém.
Um grande abraço!
J. Maria
Caríssimo Prof. Zé Maria,
ResponderExcluirSua cultura e erudição, como sempre, enriquece e ilustra este O&B. Obrigado por suas palavras generosas e pelas considerações oportunas, como sempre. São manifestações como a sua que mantêm este blogue de pé, que alentam e revigoram.
Grande abraço,
Nilseu
Deliciosa leitura e cheia de aprendizados para nós, como sempre Nilseu! Cultura e sensibilidade únicas nestes tempos apequenados que vivemos... Um beijo
ResponderExcluirCândida, querida,
ExcluirObrigado por suas palavras generosas. O&B se refestela com suas presença aqui.
Bj.
Realmente, caro Nilseu, o Incitatus faria bonito no nosso Senado
ResponderExcluirAbraço,
Dani
Uma dose cavalar de bom humor. O haras inteiro agradece, seu Nilseu.
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