domingo, 24 de dezembro de 2017

Marcelo Prates fotografa passarinhos em NY




Depois das imagens belíssimas que capturou (só as imagens) do passaredo de Belô, publicadas em álbum encantador, “Pássaros da Liberdade”, o fotógrafo Marcelo Prates resolveu apontar para bem longe suas lentes sensíveis: foi fotografar passarinho em Nova Iorque, logo de constatar a riqueza e variedade da fauna alada e emplumada na grande metrópole de concreto. Nem pestanejou: concebeu e estruturou depressa o projeto “New York Wings” e pôs-se a trabalhar.

O&B teve o privilégio de receber algumas das primeiras fotos. Marcelo observou que, tanto lá como aqui, as pessoas, em geral, nem se dão conta da presença de tanto passarinho em meio à hostilidade do ambiente urbano mas, tanto lá como aqui, “canto y plumas”, eles enriquecem, colorem e alegram a paisagem. Bravo, Marcelo! Grandes voos para “New York Wings” (nm)

(1) Pra quem sabe voar, isso aí é fácil
(2) Quase um tico-tico
(3) Num terno arrulhar de rolinhas, até NY é suave
(4) Púrpura cardinalícia
(5) Quase um saíra    
(6) O predador













segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

ASAS DE BOLERO, reclame de lançamento



O sujeito se deixa levar pelo lirismo caótico de memórias afetivas de tempos mais juvenis e o resultado inevitável são registros fragmentários, desconexos, aos quais apenas o afeto pode conferir um mínimo de unidade e coerência. Mais importante, porém, é que, de repente, sem mais, esses registros ofereçam a oportunidade insólita de retomar antigas tertúlias e reencontrar amigos que o tempo implacável, a distância e o precário da existência há muito dispersaram nas sombras deste mundo fluido e inconstante. 

Nisso, a alegria de escrever esse ASAS DE BOLERO, em ondas repetidas à exaustão em cada diálogo ocioso, em cada pequena história, ao sabor da conversa fiada sem fim, recuperados com liberdade e afeição. Então a gente pode até achar a coragem necessária pra convidar o leitor amável a juntar-se a esta pequena aventura literária.

Não dá pra dizer muita coisa sobre o lançamento de um livro despretensioso feito ASAS DE BOLERO, além do que está posto no reclame. Mas sempre há o clima festivo da Savassi e, ali, bem no meio do burburinho, o charme acolhedor do Gujoreba Café.  E o evento terá o brilho, inefável brilho, do teclado do Washington (as time goes by  Blue Moon, you saw me standing alone , non, rien de rien, je ne regrette rien, como ´e prima, piú de prima, t´ameró, meu coração, não sei por que, bate feliz quando te vê, Luna que se quebra sobre las tinieblas de mi soledad, Lili Marlene, Maria Dolores, Maria La Ó, Michelle, ma belle, Marina morena você se pintou,  oooooó, se asoma la Luna, las palmeras susurran un canto tropical...  (nm)

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

BH exulta no esplendor da sibipiruna em flor

Manhã de domingo, trânsito interditado  na Savassi, um turista ou outro tirando fotos ao lado da estátua de bronze do escritor Roberto Drummond, crianças patinando, andando de bicicleta ou apenas correndo de um lado para outro no leito de ruas e avenidas sem automóveis, cachorros passeando seus donos e donas, umas bem bonitas. O blogueiro fotografa, distraído, os ladrilhos da Avenida Getúlio Vargas enfeitados de amarelo pela florada de sibipiruna (Caesalpinia peltophoroides), que, pontualmente, chegou a BH com a Primavera.

Pois é. As flores das quaresmeiras chegaram primeiro, sempre chegam, com todos os tons da Paixão; em março, abril, é a vez do rosa clarinho das gordas paineiras, que tanto alegram os periquitos e outros psitacídeos que se mudaram para BH por causa dos incêndios e queimadas que lhes devastam sistematicamente o habitat. Em julho vêm as deslumbrantes inflorescências dos ipês roxos para assumir seu protagonismo incontrastável nas ruas, avenidas, praças e parque da cidade. Isso por umas quantas semanas, quando, então, saem da paisagem para dar vez à dourada explosão dos ipês amarelos, logo substituída pela passagem fugaz dos ipês brancos, grinalda digna para as bodas de qualquer Vênus de Botticelli.


Agora, são as douradas panículas da sibipiruna que enfeitam a cidade e alegram o coração. Elas decrescem da base para o ápice, criando graciosas formas piramidais que oferecem delicada sugestão de lanternas chinesas. Os folíolos minúsculos e as pequenas pétalas se desprendem e forram o chão, mesmo que  seja pavimentado e hostil, com seus matizes generosos. O Sol da Primavera na manhã tranquila  se deixa filtrar pelas copas espessas  e chega com suavidade ao leito da avenida, para espevitar o grato fulgor  da insólita tapeçaria. (nm)


Chope com o Rei no Gujoreba


A gente sai tirando umas fotos pela Savassi, em BH, e depois resolve flanar um pouco pelas ruas sem tráfego, onde sempre é possível encontrar conhecidos dispostos a alguma conversa fiada. Na quadra fechada da Rua Antônio de Albuquerque, nenhum conhecido no Café Três Corações, nas mesas ao ar livre do Gujoreba, ninguém. Do lado de dentro, porém, uma surpresa, àquela hora quase matutina, cerca das onze: dois amigos, Saba Mansur e Cláudio Antuña entregando-se ao alegre fruir do primeiro chope do dia. O que fazer? É chegar logo e incorporar-se, embora a primeira ideia fosse apenas a desfrutar o excelente café do lugar. Mas esse plano falhou rápido, com a chegada do Reinaldo José de Lima, que sentou-se à mesa e, depressa, Ivan, o “maitre”, trouxe-lhe uma água de coco, que bebeu devagar, depois o chope.

Por aqui todo mundo sabe que Reinaldo é o mítico centroavante do Clube Atlético Mineiro,  o melhor artilheiro de todos os tempos, que exerceu os misteres do futebol muito mais no nível de artista que de atleta e encantou até as pedras dos estádios. O blogueiro já tinha conversado duas ou três vezes com o “Rei”, que é como a apaixonada a torcida do Galo ainda o reverencia, mas não no clima de uma mesa de bar, de bar tranquilo e acolhedor da Savassi, o Gujoreba, no caso. Foi um tremendo happening, conversa boa, amena. Até sobre futebol a gente conversou.

O blogueiro pediu licença ao craque para uma foto. O Rei aquiesceu alegre e gentilmente e ergueu a mão direita, o punho fechado, no mesmo gesto alusivo ao movimento dos “Panteras Negras” com que celebrou cada um de seus gols inesquecíveis pelos estádios da vida, o gesto que as arquibancadas, em transe frenético,  replicavam com fervor republicano.


Reinaldo era só um garoto, mas aquela basta cabeleira “Black Power” e aquele punho erguido a cada gol, e eram muitos gols, irritavam demais os poderosos do Brasil. Isso também era muito bom. Bravo, Rei! (nm)

(Correção: O Gujoreba fica na Antônio de Albuquerque, e não na Fernandes Tourinho, como constou na mensagem aos leitores de O&B) 

domingo, 30 de julho de 2017

Florada de ipês, festa e esperança pra todos nós



BH está vestida para festa, com todas as cores e galas dos ipês. A florada deste ano chegou simplesmente deslumbrante, repetindo, talvez, o grande jubileu vegetal celebrado na cidade por essas árvores inacreditáveis em 2011, quando cometeram todos os excessos de magnificência. Todos os tons do rosa clarinho ao lilás estão em nossas ruas, praças, parques, cemitérios, quintais e onde mais. Ipês, ipês por toda parte, que bom!

É claro que, no reino das entidades verdes, essas ocorrências essenciais estão subordinadas a condições de ordem meteorológicas, como a variação de temperatura e da umidade relativa do ar, sei lá. Mas a gente pode acreditar em magia pra explicar  a orquestração da florada dos ipês que, de algum modo, concertam isso de nos brindar, todos na mesma noite,  com o esplendor de suas inflorescências. Mas, também, explicar pra quê?

O ipê da foto, achou de florir no canteiro central da Avenida Getúlio Vargas, de onde irradia em muitas direções seus mais brilhantes eflúvios de sua fantasia vegetal. As magnólias do fundo ostentam o verdor do vestido de baile da Scarlett O`Hara. Dá até pra gente pensar se a árvore não guarda atavismos dos tempos do Jardim do Edem que, de vez em quando, permite que se manifestem para refrescar a memória dos homens, numa quadra triste como esta, de miséria e indigência por todo lado, sem perspectivas de alívio, refresco nenhum, sem esperança.

Milhares de zumbis perambulando pelas ruas e dormindo nelas faça chuva ou faça sol, ou na friagem açoitante deste nosso inverno que, de repente, resolveu mostrar seus rigores. Comem e bebem o que lhes oferece as ruas e, claro, aceitam sem reservas o consolo alucinógeno e letal das pedras de sonho. Uma merda! E, no entanto, vêm os ipês com uma florada dessas. Gente, ainda dá pra acreditar. (NM)

Um pé de maracujá alienígena

Pra quem não é de BH, explico que a Savassi é a área mais charmosa da cidade, muito comércio, galerias, shoppings, restaurantes  e, sobretudo, muitos bares. Nesse espaço especial de uma cidade especial, eles são tantos que até podemos parafrasear em nosso próprio proveito aquela assertiva madrilenha de que “hay mas bares en la calle Atocha de Madrid, que en todo el reino de Dinamarca”. Nunca fui de sair contando bares escandinavos, mas os nossos estão aqui, pra quem quiser contar.

Da perspectiva do bar, de qualquer bar, da “calle Atocha” ou da Dinamarca, mas estamos na Savassi e, é igual, não deixa de ser intrigante a prosaica presença de um pé de maracujá na Rua Antônio de Albuquerque, entre Levindo Lopes e Sergipe. O mais provável é que alguém comeu um maracujá e lançou a cuia vazia ao pé de uma árvore do passeio e, por acaso, uma semente foi junto. A semente germinou,  a rama galgou a árvore com suas tenazes gavinhas, alcançou a fiação telefônica, a rede elétrica, e não para de se expandir em todas as direções, deitando um imenso caramanchão.

Isso, porém, não passaria de especulação, considerando-se a hipótese, das mais plausíveis, do maracujá alienígena, que apenas inicia uma invasão, que só terminará quando a ramagem exuberante vinda do espaço sideral estender-se por toda a rede de cabos elétricos da cidade, alcançando os edifícios, públicos ou não – imagine o que será de tantos palácios da justiça? – até cobrir nossa BH tão amada, idolatrada, salve, salve!

E, no entanto, o pé de maracujá da Rua Antônio de Albuquerque achou de dar frutos, lindos e suculentos maracujás, isso depois de exibir sem qualquer pudor aquelas flores da cor da paixão, roxas, roxas. O primeiro que ocorre em quem vê aqueles frutos, é um bom e refrescante suco, mas é bom lembrar que o pé de maracujá pode ter seus próprios desígnios: esconder BH sob um imenso caramanchão protetor, ou transformar em suco sua população ingrata e descuidada.  (NM)

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Breve discurso em louvor à conversa fiada

Conversa fiada depende das disponibilidades de tempo e presença em locais onde se possa contar uma história, uma anedota, à toa, descansadamente, admitindo, claro, a participação de algum apressado que chega, conta ou ouve qualquer banalidade e vai embora. Pode começar pela mais prosaica das indagações meteorológicas: Será que hoje chove? Mas também de qualquer outro jeito. Se vai acabar, e onde, é outra questão, porque flui em círculos e raramente é conclusiva. Nos parlamentos, concílios, conclaves, congressos, seminários e que tais também é assim, mas qualquer comparação para por aí, por lhes faltar o ócio genuíno e desinteressado.

 A essência do conversar fiado é a gratuidade, que permite a agregação de contribuições a uma anedota ou a uma história qualquer, de papagaio, pescador, de padre, de garimpeiros, caçadores, pícaros, valentões, e histórias de amor e sedução...  Essas histórias, às vezes, transbordam das comunidades em que foram engendradas e, em alguns casos, o continuo processo de aprimoramento as eleva à dignidade de patrimônio de toda a Humanidade. Jorge Luís Borges atribui aos “mentideros” do Oriente, cujo cerne é a conversa fiada sem meias nem peias, boa parte da gestação do Livro das Mil e Uma Noites, livro de todos nós. Fora isso, numa boa conversa fiada ninguém ganha nada, mas, também, não perde.

Afã de companhia, espairecimento ou diversão, lazer, sei lá! O prazer ancestral de  conversar fiado é um modo universal de convivência, por metonímia, a própria convivência, cujas origens perdem-se no tempo em que grandes primatas começavam a articular as primeiras palavras na recôndita escuridão das cavernas. E vem, desde então, renovando-se, adaptando-se a peculiaridades geográficas, de clima, ambiente, cultura. Nômades dos desertos do mundo, pastores das estepes ou das montanhas, caçadores, pescadores  polinésios e baianos cultuaram, sempre, a conversa fiada, em volta de uma fogueira, na praia, à sombra de uma grande castanheira num pequeno passeio, ou de um pé de jatobá antigo, numa praça antiga... É conversar, contar e ouvir histórias, rirem juntos, ou até chorar, a instâncias de um relato comovente de peripécias que a condição humana imponha. Mulheres reunidas junto à fonte, enquanto esperam a vez de encher seus cântaros, conversam, conversam. Na beira do rio, as que lavam roupa, se não estão cantando, também conversam... As coisas mudam, mas nem tanto. Se a chuva não passa, e enquanto a Peste não vai embora, como nos tempos de Boccaccio, o jeito é contar história.

Mas, e o botequim?

Em esquinas e praças de cidades grandes e pequenas, em velórios, vendas de secos e molhados, portas de igreja, feiras, mercados, salões de beleza e de barbeiro, salões de sinuca, pontos de táxi, bordéis, é a conversa fiada que nutre a convivência. Admitamos, porém, que a catedral onde se celebram seus grandes e pequenos mistérios, gozosos e gloriosos, uns, outros nem tanto, é mesmo o botequim, onde tudo reverbera: Saúde!  (NM)