(X)
Misteriosas formas heptaédricas, douradas e incandescentes, dissimulando-se em seqüências exasperantes de conjuntos de sete elementos, exaltam a exasperação de João, sete vezes tocado pelo Intangível. Mateus e Lucas se conformam às mesmas formas, às vezes, como ao fixarem espantosa oração e as súplicas, em número de sete, que ela contém e que se expandem em catadupas de luz, como as sete faces de um diamante perfeito, no Livro e no coração de muitos homens: “Pai nosso que estais no céu, santificado seja o Vosso Nome...”
As mesmas
formas se cristalizam na voz de um caboclo cantando piedosa composição, em que
o número Sete se eleva às encantadas esferas do hierático. Se, por exemplo,
refere-se às “Sete Chagas...”, por puro respeito, apropria-se de possibilidades
do cardinal que, de ordinário, não constam de gramáticas nem de dicionários.
As chagas,
tantas, sangrando por fora e por dentro, nem dá pra contar! Então ele as reduz
a “sete” por um processo metonímico que sustenta uma ideia de “todas as
chagas”: as dos açoites, espinhos, lanças, cravos, as da injustiça, e as chagas
da solidão e do abandono.
Na
intuição de almas simples, a dor e o quebranto de sete chagas tais é que teriam
suscitado, um dia, perto da hora nona, a tremenda exclamação: Eli, Eli, lama sabactâni! (Mt 27 - V46).
Pois é. Homens rezam e imploram, sempre imploram, e cantam. Sempre cantam. Onde, porém, a correspondência mágica com caprichos nem sempre evidentes do número Sete? Não na oração do Anjo Anunciador, que se eleva na voz de Pavarotti até as esferas mais altas: Ave gratia plena... Pura reverência! Na interpolação, depois do Mensageiro, a súplica mais pungente: Sancta Maria, Mater Dei, ora pro nobis peccatoribus, nunc et in hora mortis nostrae.
Pungente, também, a Oración Caribe, de Agustin Lara, coisa do século passado, quase uma antiguidade que Toña la Negra, intérprete preferida do compositor, mantém sempre viva, sempre emocionante, como se cantasse no mais alto do templo mais alto de Teotihuacan:
Oración Caribe, que sabes de implorar, Salmo de los negros, oración del mar! Piedad, piedad para el que sufre, Piedad, piedad para el que llora. (...) Un poco de calor en nuestras vidas un poquito de luz en nuestra aurora...Na Oração de Dorival Caymmi a Mãe Menininha, nem há súplica, só reverências, sete ou mais. Bethânia e Gal, vozes de muitos anjos, fazem com que cada uma chegue ao Gantois, a Mãe Meninha, a todos os Santos da Bahia, a todos os Orixás:
Ai, minha Mãe
Menininha,
Menininha do Gantois:
A beleza do mundo, hein? Tá no Gantois
E a mão da doçura, hein? Tá no Gantois
O consolo da
gente, hein? Tá no Gantois
E a Oxum mais bonita, hein? Tá no Gantois
Olorum quem mandou essa filha de Oxum
Tomar
conta da gente e de tudo cuidar Olorum quem mandou ô ô, ora iê iê ô...
Ora iê iê ô, Dorival! Saravá, meu rei!
(nm)
Bravo!!!
ResponderExcluirÔ, Panther. Seu comentário é econômico na extensão, mas não na generosidade. Obrigado e, o que vale é a visita. Venha sempre que O&B abradece.
ExcluirCaro Nilseu, cá da minha solidão ociosa e sem dinheiro no bolso, pude divagar nessa viagem sugerida. Sete e sete são 14, com mais 7, 21...
ResponderExcluirSalve Oxum e Olorum, vem cá cuidar d'eu que eu cuido d'ôces.
Caro Eduardo:
ExcluirSeja bem vindo e tenha uma boa sete afora. Obrigado pela presença em O&B e grande abraço.
Aguardando a continuação... tá interessante
ResponderExcluirÔ, Fabbrini: Obrigado pelo estímulo. Vou continuar até esgotar as prosopopeias do livrinho. Não é muita coisa não. Grande abraço
ExcluirLi. Obrigado. Entendo o seu gosto e a opção pelos textos sempre simbólicos e especulativos. Mas fico com a sensação que com sua experiência de jornalista e observador antigo do mundo, e do Brasil, poderia dedicar-se mais às nossas realidades, que também são fantásticas e são carentes de acompanhamento, analítico, crítico, onírico e plantadas na nossa realidade, que também é fatástica.
ResponderExcluirMauro Werkema
Ô, Mauro:
ResponderExcluirObrigado por sua visita a este O&B e pelas sugestões que você apresenta com tanta sinceridade. Talvez essas especulações mais ou menos esotéricas em que às vezes me perco sejam o refúgio de um velho mais ou menos anarquista desiludido num país fantástico demais.
Acabei de ler no O&B mais duas crônicas do Heptaédricas, que aguardamos nova edição impressa. Passei a vida mexendo com números, mas não sabia da magia do 7. Aprendi a importância do número na mitologia grega, nos Evangelhos de Jesus, nas Sete Chagas do Mestre e na Bahia de Caymmi, Gal, Bethânia e Mãe Menininha do Gantois. Muito obrigado por mais essa posatagem que muito me ilustrou.
ResponderExcluirGrande abraço,
Daniel.
Ô, Daniel: O sete é mesmo cheio de nuances, implicações misteriosas que, às vezes, extrapolam as mumunhas do sistema numérico decimal. Obrigado pela visita a O&B. Grande abraço
ResponderExcluir