segunda-feira, 12 de novembro de 2018

¡Que nos quiten lo bailao!


Maria Luisa recebeu de uma amiga mexicana graciosa montagem, imagem e versos de Sor Juana Inés de La Cruz que, desde Sevilha, enviou ao blogueiro: “No me resisto a compartirla contigo. Se la voy a mandar también a Rosinha, por eso de ¡que nos quiten lo bailao!” Bom. Rosinha é bailarina de ofício, literalmente, muito baile vida afora. Dançar é sua riqueza. ¡Que nos quiten lo bailao!” é um jeito muito espanhol pra expressar uma ideia do tipo “Olha, meu chapa, você pode criticar, condenar, reclamar, o que quiser. Mas o que eu dancei está dançado e não cabe devolução nem retorno”.

O blogueiro, por sua vez, não resiste à oportunidade de compartilhá-la aqui, homenagem de O&B à grande poeta. É inacreditável que ela tenha escrito o que escreveu na cidade do México do Século XVII!

Sem referência na memória referência aos versos que aparecem na montagem, que não tinha certeza de serem da grande poeta, recorreu a Maria Luisa: – Não me lembro de tê-los lido...

Ela esclareceu –  Son de Sor Juana, por supuesto, de un soneto titulado "Escoge antes el morir..."

Ei-lo:
Escoge antes el morir que exponerse a los ultrajes de la vejez

Miró Celia una rosa que en el prado
ostentaba feliz la pompa vana,
y con afeites de carmín y grana
bañaba alegre el rostro delicado;   

y dijo: Goza sin temor del hado 
el curso breve de tu edad lozana,
pues no podrá la muerte de mañana
quitarte lo que hubieres hoy gozado.   

Y aunque llega la muerte pressurosa
y tu fragrante vida se te aleja, 
no sientas el morir tan bella y moza:   

mira que la experiencia te aconseja
que es fortuna morirte siendo hermosa
y no ver el ultraje de ser vieja.

– Sor Juana era una adelantada a su tiempo, diz Maria Luisa. Recuerda eso hombres necios que acusais // a la mujer sin razón...
“sin ver que sois la ocasión
de lo mismo que culpáis;
(...)
Opinión, ninguna gana,
pues la que más se recata,
si no os admite, es ingrata,
y si os admite, es liviana.

Siempre tan necios andáis
que, con desigual nivel,
a una culpáis por cruel
y a otra por fácil culpáis.

¿Pues como ha de estar templada
la que vuestro amor pretende?,
¿si la que es ingrata ofende,
y la que es fácil enfada?

Feminista avant la lettre? Não sei. Mas o baile que bailou Sor Juana Inés está bailado, bailado para sempre. Suas palavras de fogo resplendem como uma grande constelação que, em meio a jornada triste no deserto da insensatez misógina, da discriminação obtusa, da tosca intolerância, pode oferecer Norte seguro ao peregrino. (nm)

11 comentários:

  1. Gracias, Nilseu, muy lindo! Sigamos gozando nuestra edad sin temer el hado y todo más!
    Un abrazo fuerte y lozano!
    Lélio Fabiano

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  2. Adorei, Nilseu! Confesso que se meu espanhol fosse melhor, teria aproveitado mais a leitura... Pra isso, vou recorrer à família Antuna!

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  3. Querido Nilseu,

    Vou ler sobre a Juana Inés. Adoro tudo o que ela escreveu. Por acaso você já viu a série da Netflix sobre ela? É muito boa. Acho que estou chovendo no molhado, imagino que tenha visto.

    Abraços da
    Marilia

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    1. Querida Marília,

      Bom ter sua companhia aqui em O&B. Não vi a série, que ando meio desplugado da tv. Mas Sor Juana é um portento, não é não?

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  4. Grande Nil... "escolha bem feita" . Amanhã temos encontro no Bar do Xumba, Jaspe com Salinas, Santa Teresa. Até lá,

    Panther

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  5. Olá, Nilseu!

    Que boa surpresa você trazer Sóror Juana Inés de la Cruz ao seu blog! Ela, escritora talentosa e mulher admirável, lutou e sofreu para superar as limitações impostas pela sociedade preconceituosa e androcêntrica dos anos seiscentos, agravadas pela pressão da Igreja e da Inquisição nos moldes ibéricos. Moldada pela estética barroca, Juana Inés soube, como poucos, expor o drama da fugacidade da vida e trabalhar as antíteses vida e morte, juventude e velhice, atração e repulsa, espiritualidade e carnalidade. Talento reconhecido desde a adolescência, fez do desejo de conhecimento e da expressão poética o motivo central da sua existência. Parabéns por tratar no seu blog dessa escritora extraordinária, que precisa ser mais conhecida no Brasil. Um abraço!

    JM Santos

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    1. Obrigado, professor, mais uma vez, por suas palavras que, a par de tão amáveis, sempre chegam para enriquecer O&B.

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  6. Obrigado. Preciso me dedicar mais ao espanhol, para poder apreciar melhor a poesia de Sor Juana...
    Abraço, José de Castro

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