Sete as colinas encantadas, Palatino, Quirinal,
Aventino, Monte Célio, Viminal, Capitólio e Esquilino, e sete os reis que
fundaram a cidade e seu império, Rômulo, Numa Pompílio, Tulo Hostílio, Anco
Márcio, Sérvio Túlio, os dois Tarqüinios, Prisco, um, pela ordem, o outro,
Soberbo. Coincidência? Talvez, ou capricho de nume antigo, sete ondulações
telúricas sobre as quais, soberanamente, desde a dourada era de Saturno
reinaram reis em número de sete, como em conjunção de astros dispostos em
heptâmetros mágicos: Quem os terá composto, se Ovídio, e o Quinto Horácio
Flaco, e Marcial, Lucrécio, Propércio, Lucano, Virgílio Maro... fazem parte da
estância? Passear por
Roma é muito bom
“As Sete Colinas de Roma”,
1957. O roteiro do filme parece ter saído das pranchetas de uma agência de
turismo e, sem maiores preâmbulos, põe a gente a passear entre monumentos e
paisagens romanos. Tem Mário Lanza com todo o seu prestígio de tenor num clima
de romance com Marisa Allasio. O dueto à beira da fonte com Luisa di Meo, então
uma garotinha, até hoje emociona. Canção de Renato Ascel:
Che arrivi, t'imbevi
De Fori e de scavi,
Poi tutto d'un colpo
Te trovi Fontana de
Trevi tutta pe' te!
Arrivederci, Roma...
Good bye...
Au revoir...
Si ritrova a pranzo a
Squarciarelli
Fettuccine e vino dei
Castelli come ai tempi
Belli che Pinelli immortalò!
Outros filmes, americanos e italianos, haviam antecipado a
fórmula. Assim, “A Princesa e o Plebeu” (Roman Holliday) de 1953, em que a pé,
de carro ou de lambreta, o público vai atrás de Gregory Peck e Audrey Hepburn.
O “Candelabro Italiano”, na década de 60, Troy Donahue e Suzane Pleshette,
seguiu a toada, tem até lambreta. Porém trouxe Al di lá, no vozeirão impostado de Emilio Periccoli. Em todos, postais
e mais postais, no que Roma é incomparável: Basílica de São Pedro, Piettà, Capela Sistina, a sombra do papa
Júlio II, a aura de Michelangelo; San Pietro in Vinculi e o “Moisés” que o
artista esculpiu, com aqueles misteriosos cornos e tudo; Castelo de Santo
Angelo, o mercado dei Campo de` Fiori e, claro, o Coliseu, o Forum Romano, o Arco
de Tito, o Templo de Vênus, a Basílica de Maxêncio, o Templo de Vesta...
Sem Fossas Ardeatinas, que o horror da Grande Guerra estava presente
demais, mas, sempre, as Termas de Caracala, o Palatino, e o Campidoglio, com
vista direta para o Trastevere e, claro, para o próprio Tibre, Isola Tiberina,
inclusa, mais a brancura do mármore no monumento a Vitorio Emanuele II, lá no
alto; Piazza Navona, Piazza di Spagna, as escadarias de Trinità dei Monti, a Via dei Condotti,
quanta grife, meu deus do céu, os
preços, nos últimos degraus! Rente às escadarias, o Museu Keats-Shelley, que
guarda memórias dos dois grandes poetas românticos no endereço em que buscaram
refúgio, em vão, contra a tísica, no clima ameno da Itália.
A evocação de Roma traz muita referência, umas de puro afeto,
outras nem tanto: Malaparte, Malatesta, Palmiro Togliatti, Don Camilo, Pepone,
Vittorio de Sica, bicicletas, Bernardo Bertolucci, Rita Pavoni, datemi un martelo // Che cosa ne vuoi fare? // Lo voglio dare
in testa, sim! E Fellini, Oito e Meio e Amarcord, La Dolce Vita (À meia-noite, com Anita Ekberg dentro, é quando mais bonita é a Fontana de Trevi), Modugno, Cos`è che trema sul tuo visino. // È pioggia
o pianto, Dimmi cos` è, // Ciao ciao bambina // Non ti voltare, non posso dirti rimani ancor.//
Vorrei trovare parole nuove, ma piove, piove...
“Cidade Aberta” é a Roma de Roberto Rosselini e de Ana Magnani, dela,
também, a “Mamma Roma” de Pasolini, que recria na cena urbana, em tomadas emocionantes,
sugestões de afrescos de Giotto, Caravaggio, Tintoretto... A Cidade comporta
esse tipo de capricho, deixando sublimar com naturalidade séculos e séculos de história
e arte, em projeções luminosas nas telas dos cinemas do mundo inteiro. Esses
filmes dão a impressão de não buscarem revelar seus mistérios e segredos,
talvez para não compartilhar com não iniciados, só deixar rolar: inverno, as sombras da guerra presentes na
noite espessa, dissimulando o indecifrável. (nm)
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Continua na próxima quarta-feira
Há cena mais arrebatadora em Roma do que La Ekberg na Fontana di Trevi? Inesquecível e imbatível!
ResponderExcluirPois é, Marília. Totalmente inesquecível.
ExcluirMaravilha, amei, muito obrigada.
ResponderExcluirEstou indo nesta quarta-feira para lá, foi muito bom estas lembranças, você foi perfeito, não esqueceu nada.
Obrigado por sua visita a este O&B. Tenha uma ótima viagem.
ExcluirBravo, NIlseu; bravissimo. Com todo o respeito pelos dissidentes apaixonados por outras cidades, Roma é a minha favorita - a mais bonita, emocionante e a mais "humana", se é que me entendem. Para quem ainda não viu, sugiro um dos melhores filmes passados lá e que não consta de sua lista "Para Roma com Amor", de Woody Allen, segue link https://www.youtube.com/watch?v=QciYI342304
ResponderExcluirÔ Fabbrini: a gente viu o filme que você menciona e se emocionou demais. O Woody Allen tem a sensibilidade e a manha para capturar as sutilezas da Velha Cidade. Obrigado pelo visita a O&B, pelo comentário e pelo link. Grande abraço
ExcluirRoma mi incanta. Non cambierò nessun posto, nessun viaggio. Sempre Roma!
ResponderExcluirValeu, Pier. Obrigado pela presença ilustre neste O&B. Grande abraço
ExcluirSomente hoje pude ler Roma. Que bela viagem pela Cidade Eterna você nos proporcionou, à pé, de carro, de lambreta ! Dos filmes citados, acho que não vi apenas As Sete Colinas de Roma. Que coleção de belos filmes, principalmente os do Realismo Italiano. Estive na cidade algumas vezes e pude acompanhar, mais ou menos, o passeio imaginário que o seu texto percorreu. Muito obrigado pela viagem, Nilseu.
ResponderExcluirAbração,
Daniel
É isso, Daniel. Passear em Roma é bom demais.
ExcluirMuito bom, pai!
ResponderExcluirValeu, filhote.
ExcluirObrigada, Nilseu, adoro esses filmes italianos antigos...tudo de bom!
ResponderExcluirTudo de bom pra você também, Helô. E obrigado pela visita a este O&B
ExcluirAmei, Nilseu e eu adolescente, apaixonei-me por Candelabro Italiano!!!!
ResponderExcluirNão sei se é a canção, se é o clima de romance ou a magia da cidade de Roma. Objetivamente, muito suspiro.
ExcluirCaro Nilseu,
ResponderExcluirUma explicação, em primeiro lugar: o computador brigou comigo por um bom tempo, mas fizemos as pazes, daí estar de novo com você.
Segundo, um agradecimento: você me proporcionou uma caminhada imaginária pela Roma Eterna, uma cidade realmente incomparável, onde se pode saltar de um monumento a outro, cada registro artístico ou histórico nos causando a maior emoção. É um museu vivo, para se ver e sentir tantas vezes quanto forem as oportunidades de cada um de nós. Continuemos, então, nessa jornada romana. Pode até ser cansativo, mas o ganho atinge o fundo da memória, para a vida inteira.
Um afetuoso abraço.
Ariosto
Que bom você de aqui neste O&B, Ariosto. Compartilhar esses breves registros mnemônicos com uma sensibilidade como a sua é o que eu posso chamar de "tudo de bom".
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