(XVII)
do centauro Pancho Villa
Chakmol clareou com um pouco de luz da Lua o fundo misterioso do cenote para revelar a arca de lembranças que a água escondia no mais escuro do poço. Dentro, quinquilharias, fragmentos desconexos, cacos de memória que apenas a sonoridade incomparável de um pequeno tesouro de palavras impronunciáveis faz cintilar: Teotihuacan, onde os deuses se reuniram antes da Criação, Tenochtitlán, Chichen Itza, Huitzilopochtli, Queatzacoatl, Kukulcán... Às vezes, ecos imprecisos, Miguel Angel Astúrias, Gorostiza, Octavio Paz, a Mariposa de Obsidiana: Canta en la verde espesura // la luz de garganta dorada, // la luz, la luz decapitada. Vibração suave de muitas rosas, azuis, as estrelas, pálidas: Sor Juana Inés de la Cruz:
el curso breve de tu edad lozana,
pues no podrá la muerte de mañana
quitarte lo que hubieres hoy gozado;
(...)
no sientas el morir tan bella y moza:
mira que la experiencia te aconseja
que es fortuna morirte siendo hermosa y no ver el ultraje de ser vieja.
Hernan Cortez, Malinche, Guatemoc, Miguel Hidalgo, Maximiliano, Benito Juarez. Zacatecas, Torreón, Parral, Chihuahua, Morelos, Oaxaca... Pancho, Tomás Urbina, Panfilo Natera... Emiliano Zapata, Francisco Madero, Pascual Orozco, Álvaro Obregon, Venustiano Carranza, Enrique Flores Magón, seu irmão Ricardo... Então um ditador velho vira frase, uma única frase, e nela sobrevive até hoje. Que metamorfose!
"general-porfirio-dias-pobre-méxico-tão longe-de-
deus-tão perto-dos-estados unidos"
Tanto pelear y pelear... Mire usted, mi general, yo que fui un hombre valiente (...) quiero que usted me afusile en público de la gente, ”mañanas” tristes de Benjamin Argumedo; Mariachi Vargas de Tecalitlan, La Adelita, outra Adelita, todas as Adelitas; “Con las barbas de Carranza, voy hacer una toquilla, pa ponerle en el sombrero, del señor Francisco Villa // La cucaracha ya no puede caminhar...” Mas “o petróleo é nosso”, hem, presidente Lázaro Cárdenas!
Maria Felix, Maria Bonita, Maria del Alma, versos de Agustin, voz de Jorge Negrete. José Alfredo Jimenez propõe “adiar el olvido al estilo Jalisco”, mas esses modos “tapatios” de procrastinar esquecimento são um tremendo enigma, não são? Frida Kahlo, Leon Trotsky, Diego Rivera, Siqueiros, Cantinflas, La Teibolera Lila Dawns, som de jade e prata: Cantame Tacha, una rancherita de esas bonitas, de esas que a un hombre lo hacen llorar...
Chiapas outra vez, o Subcomandante Marcos, outra vez Zapata!
Celebrar o agave, o
henequén. Tequila, a tequila... É de
bom alvedrio levar em conta a liturgia do destilado, seu ritual: canção de Cuco
Sanchez sugere “una pura y dos con sal”. Brindemos: “Arriba, abajo, al centro, pa dentro.” Vale!
E cantemos: Volaron los pavorreales rumbo
a la Sierra Mojada. // Mataron a Lúcio Vazquez...
Amado Nervo
celebra grandíssimo amor no poema que virou tango:
El día que me quieras tendrá más luz que
junio;
la noche que me quieras será de plenilunio,
(...)
Las fuentes cristalinas
irán por las laderas
saltando cristalinas
el día que me quieras.
El día que me quieras, los sotos escondidos
resonarán arpegios nunca jamás oídos.
(...)
El día que me quieras, para nosotros dos
cabrá en un solo beso la beatitud de Dios. (nm)
Teotihuacan, Tenochtitlán, Chichen Itza, Huitzilopochtli, Queatzacoatl, Kukulcán...
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Continua na próxima quarta-feira
Conheci todos esses lugares do México, de nomes quase impronunciáveis e, até por isso mesmo, mágicos. O mais bonito de todos, na minha opinião, Chichen Itza. Seu artigo me trouxe de volta a beleza daquele país. Que me perdoe a Sor Juana Inés, a quem muito admiro, mas ainda bem que não morri jovem!
ResponderExcluirÔ, Marília,
ExcluirVocês recorreu ao conceito apropriado para qualquer abordagem do México: a magia. Sim. O país é escandalosamente mágico. Quanto a Sor Juana, devo admitir que descontextualizei com alguma malícia o poema postado, ao omitir que todo o diálogo ocorreu entre "Célia", o "eu" poético da própria poeta a rosa que ela encontrou numa manhã de primavera. Mas não queria dar margem a qualquer imputação de machismo à grande Sor Juana. E, mais uma vez, obrigado por sua presença neste O&B
Caro NIlseu, infelizmente nunca estive por aqueles lados, mas acabo de ganhar uma viagem virtual com um guia competente e inspirado. Parabéns, aguardo a sequência.
ResponderExcluirPois é, Fabbrini. O México é o tipo do lugar inesquecível. A gente passa por lá e, depois, fica pensando. Obrigado, mais uma vez, pelo comentário gentil.
ExcluirSó conheci o México por alguns de seus escritores e pelos filmes que assistia muito na juventude. Agradeço ao Nilseu Martins por mais essa oportunidade
ResponderExcluirQue bom ter sua companhia qualificada numa viagem afetiva a Tenochtitlan.
ExcluirEntre tantas andanças, estive por lá, na cidade do Mexico, nos anos de 1998, a trabalho. Pude comer comida de rua e passear por el Zócalo y El Museo del Templo Mayor. Voltei.
ResponderExcluirCaríssimo Pier:
ExcluirMuito bom compartilhar esses breves registros mnemônicos com você. E olha que nem mencionei os "tamales" que me reconfortaram no Zócalo nem a impressão que nos causa a catedral da Cidade do México. Viva Nossa Senhora de Guadalupe!
Muito obrigado por essa viagem mexicana. Não conheço o fascinante país do norte e a sua XVII heptaédrica reduziu o meu desconhecimento do território azteca.
ResponderExcluirAbração
Valeu, Daniel. O México é um mundo fascinante, por isso gera lembranças sempre ricas. Grande abraço
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