Não venceram, mas assim é a guerra e, de qualquer modo,
vitória é flor que murcha e seca muito depressa: só do lutar a flor não cessa.
Epígonos assediaram com sucesso as mesmas pedras, pagando tributo oneroso ao
impiedoso Ares. Duas gerações de argivos contra orgulhosos tebanos provaram só
que Alegria não faz séquito à Glória: lutar, lutar, sempre lutar. Vencer, às
vezes vencer, depois chorar.
Sete também são os samurais (Shichinin No Samurai) de Akira
Kurosawa, mas quem, entre tanto japonês, lembrar-se-ia de seus nomes
complicados, à exceção, talvez, de Toshiro Mifune? Se o filme, belíssimo,
replica no Oriente ritmos e padrões de composição e imagem que Kurosawa sempre
admirou nas obras de John Ford e John Houston, outro John (Sturges), fez a
tréplica, transpondo de novo para o Ocidente, mais precisamente para um cenário
mexicano de western, a saga dos
guerreiros japoneses no inesquecível épico Sete Homens e um Destino. Em seu
filme, Yul Brynner, James Coburn, Steve McQueen, Robert Vaughn, Charles
Bronson, Horst Buchhole, Brad Dexter.
É como se esse filme realizasse a metáfora de Ouroboros mordendo a própria cauda, numa exaltação
lírica da ideia de infinitude. O círculo posto em movimento confunde convenções
precárias, fátuas noções de limites: onde termina o Ocidente, onde o Oriente
principia, se toda hora é a hora do Ocaso e, afinal, não é Aurora cada hora? O
entrelaçamento de culturas é como uma imensa brincadeira de roda em que homens
e mulheres, enquanto vão girando, girando, produzem reverberações luminosas que
catalisam as possibilidades mais furtivas do sem fim.
Como a Quetzacoatl dos Toltecas e dos Maias, o Midgardsormr dos Vikings, Vritra, do Mahabarata, a Hidra dos cantos homéricos, o Leviatã do Livro de Isaías, ou como quer que se queira chamá-la, a Grande Serpente que fecunda a aurora dos tempos e inaugura a História espoja-se em seu leito de espumas no Mar Imenso. Ela recebe, como piedosa oferenda, colar tão brilhante quanto o Brisingamen que enfeita o colo da recatada Freya e compraz-se em seu esplendor. Meio-Dia e Setentrião confundem-se nas grandes águas, também o Leste e o Oeste; os Tempos encontram-se em arrebatados instantes, perturbando as noções intrinsecamente vagas do princípio e do fim. No que concerne a ovo e galinha, ocioso é indagar precedência, como talvez já tenha advertido Zaratustra. (nm)
3 Ora, a serpente era o mais astuto de todos os animais selvagens que o Senhor Deus tinha feito. Gênesis.
ResponderExcluirE isso aí, Pier. Viva a serpente! Obrigado, mais uma vez, por sua visita a este O&B.
ExcluirSorte de quem lê Ociosidades & Bagatelas, preciosidades históricas, folclóricas e similares, com o talento desse escriba valoroso.
ResponderExcluirÔ, Fabbrini:
ExcluirSeu comentário deixa o blogueiro troncho de vaidade.